quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Corrida de Dilma, por ora, é contra Ciro

É para evitar que Ciro Gomes vire, por inércia, o candidato oficial da base governista que o comando da candidatura de Dilma Rousseff passou, nas últimas duas semanas, a se movimentar tão freneticamente.
O plano original era que a trajetória de Dilma fosse um foguete com dois estágios: em 2009, a consolidação do nome junto à militância do PT e do governo federal; em 2010, a divulgação maciça da herdeira de Lula em uma campanha plebiscitária contra os tucanos.
A candidatura de Ciro (PSB), mais até do que a de Marina Silva (PV), rasgou o roteiro, porém. Ciro resiste mais forte do que o previsto nas pesquisas, à frente da ministra da Casa Civil em quase todos os cenários.
A engenharia do foguete Dilma teve, então, de trabalhar com um terceiro estágio, intermediário: ultrapassar, antes de fevereiro, o deputado cearense e convencê-lo a aceitar uma tarefa auxiliar do projeto (concorrer ao governo de SP).
Para esvaziar a candidatura nacional de Ciro, Planalto e PT aceleram em duas frentes.
Uma, institucional, é antecipar a aliança de Dilma com o máximo de partidos da coalizão lulista. Por isso a ministra passou a se reunir com tantas siglas: PMDB, PR, PRB, PP e os parceiros do PSB no "bloquinho" (PC do B e PDT). O objetivo é estrangular o PSB, deixando-o sem parceiros nem tempo de TV, a ponto de desestimular o emotivo Ciro e, sobretudo, induzir a cúpula da legenda a ficar desconfortável com o voo solo.
A outra frente é a da pura propaganda. Dilma tenta compensar o tempo e a energia perdidos no tratamento do câncer, no embate contra Lina Vieira e no abraço com José Sarney. Daí ter trocado as reuniões internas de trabalho por qualquer evento público filmável/fotografável _pescaria no São Francisco, culto evangélico etc.
Além da agenda de governo travestida, a ministra tem outros trunfos publicitários para deixar Ciro para trás ainda em 2009: 1) as eleições internas do PT, que provocarão milhares de filiados e muito debate em todo o país, em novembro; 2) o programa do partido em rede nacional de TV, em dezembro; 3) o abandono da peruca usada durante a quimioterapia e a aparição com o cabelo curto, escovinha _um "Jornal Nacional" capaz tanto de humanizar a candidata como de reforçar sua imagem de dura na queda.

artigo publicado em 21.out.2010