segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Falso negativo

A desastrada peça de propaganda de Marta Suplicy merece repúdio, mas não a tática do PT de desconstruir Kassab, fustigá-lo, forçá-lo a confrontar e explicar seu passado.
Uma das notícias destas eleições é o alto número de candidatos desconhecidos, com pouco ou nenhum retrospecto eleitoral, que os caciques partidários escolhem em cima da hora para ampliar ou no mínimo preservar suas zonas de influência.
O próximo prefeito de Belo Horizonte será um deles. Marcio Lacerda "milita" há apenas um ano no PSB _o governador Aécio Neves necessitava de um preposto em um partido intermediário para concretizar a ponte do PSDB com o PT. E Leonardo Quintão (PMDB), seu adversário no segundo turno, marcou a curta carreira de deputado com projetos para outra cidade _Ipatinga, o reduto político do pai.
É natural que a vida e a obra desses e outros "postes" despertem curiosidade e sejam abordadas durante a campanha. Acostumado a votar em pessoas, e não em partidos, o brasileiro tem direito a informações sobre elas. Quintão exagera o "erre" para soar mais mineiro? Lacerda atuou no valerioduto?
Depois da "injúria indireta" de Marta, porém, virou moda rejeitar todo candidato que bate, dizer que a propaganda inquisitiva é influência maldita dos EUA e exigir que os políticos baixem a temperatura e só discutam planos de governo.
Uma seqüência de reportagens na Folha, contudo, revelou o que é essa "agenda positiva": os candidatos invariavelmente copiam programas uns dos outros, reciclam campanhas anteriores e/ou recortam-e-colam idéias implementadas em cidades vizinhas. Há pouca diferença entre as propostas. Todos apelam a platitudes: priorizar a saúde, investir na educação, melhorar o transporte...
Há, ainda, algo de hipócrita no discurso que pede moderação. Em 2010, Dilma Rousseff poderá fazer o papel de Kassab e, com o catálogo do PAC nas mãos, desafiar a oposição a comparar obras. Qual atitude terão os serristas, hoje indignados com o acirramento da campanha? Vão topar um debate "técnico"?
Ora, assim como será legítimo vasculhar e questionar a trajetória e as convicções do "poste" de Lula daqui a dois anos, é legítimo hoje acuar o prefeito que assumiu São Paulo sem receber um único voto.
Eleição é escolha. Precisa de contrastes, não de consensos. Por isso, desde que mantenha a civilidade, a propaganda negativa presta um serviço a quem vota. E não é verdade que ela seja sempre ruim para o desconstruído. Bombardeado pela oposição, João da Costa firmou-se como ator político e garantiu, em Recife, a mais expressiva vitória petista no primeiro turno. Quanto a Kassab, ele resiste na liderança. O eleitor observa, avalia e julga também quem desconstrói.

coluna de 19.out.2008

mfilho@folhasp.com.br

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Eleição combina voto local com articulações para 2010

O domingo deverá confirmar a máxima de que a oposição não ganha eleições _a situação é que as perde. Segundo as pesquisas, o prefeito bem avaliado se reelegerá ou fará o sucessor.
A hipótese de que prevalecem as demandas cotidianas, as queixas do eleitor e sua opinião sobre a administração que encara as urnas explica a tendência continuísta. O brasileiro em geral se diz satisfeito _com a situação econômica (o crash dos EUA nem respingou nas campanhas), com a inclusão social e de consumo dos anos recentes e, também, com a atuação obreira e eficiente de muitos prefeitos neste quadriênio, anabolizada pela injeção orçamentária no Fundo de Participação dos Municípios.
Pode parecer descabido, diante disso, falar da influência de Lula, da euforia mineira por Aécio Neves ou de qualquer outra força eleitoral que não diga respeito às questões locais.
Fosse decisivo o dedo de Lula, afinal, o Rio não veria subir nas pesquisas justamente os candidatos menos identificados com o presidente (Eduardo Paes e Fernando Gabeira). Fosse automática a transferência dos votos aecistas, também, o PSDB mineiro não estaria na pindaíba, com horizonte de vitória em 7 (e olhe lá) das 28 principais cidades do Estado.
Mas raramente as chapas municipais são montadas como parte de estratégias de manutenção ou tomada de poder restritas às cidades. A razão do voto pode ser local, mas a da articulação política não é.
O Planalto, por exemplo, operou em todo o país para enfraquecer as lideranças nacionais da oposição _e manter sob controle os aliados com ambição majoritária daqui a dois anos. E como desconsiderar a “onda vermelha” se, mesmo que o PT não venha a confirmá-la, ela já pauta os movimentos de todos os partidos?
Não é exagero ou erro, portanto, “federalizar” a análise ou fazer projeções para 2010. As eleições nos municípios fazem parte de alianças ou projetos que poderão pegar embalo ou não _a teia de interesses que a Folha procura retratar nos textos abaixo.

texto de 03.out.2008

O que está em jogo - os Estados


SÃO PAULO
Em momento de popularidade recorde, Lula foi poupado, quando não bajulado, até pelos candidatos de partidos de oposição. Mas, para que sua vitória seja de goleada (ou não seja contestada), o presidente precisa de resultados expressivos no Estado do maior adversário. Daí a ironia: cabe a Marta Suplicy, a quem Lula não vinha tratando com afeto ou deferência, o papel de ponta-de-lança contra o serrismo. O diagnóstico na capital, no entanto, ficará para o segundo turno _Gilberto Kassab (DEM), em ascensão nas pesquisas, poderá despontar como o grande nome destas eleições.

Hoje, as atenções irão para o cinturão em volta da capital. O PT tem boas chances, mas os adversários também, em cidades como São Bernardo, Guarulhos, Diadema e Osasco. No interior, o campo demo-tucano deverá prevalecer na maioria dos grandes municípios, como Ribeirão Preto, Piracicaba, Jundiaí e Bauru. Nos demais, o governador José Serra atuou para ter um pé em chapas favoritas não encabeçadas pelo PT: PMDB em Santos, PSB em São José do Rio Preto e São Vicente...

MINAS GERAIS
Aécio Neves manobrou em duas frentes: em Minas Gerais, para lançar o esboço daquilo que chama de Pós-Lula; fora de Minas, para sabotar as pretensões presidenciais de seu colega tucano José Serra. Tão empenhado, não hesitou em adotar políticas diferentes para o seu partido.

Dentro do Estado, abandonou o PSDB à própria sorte, alienou os parceiros tucanos no cenário nacional e namorou o maior rival. Em Belo Horizonte, 12 siglas integram a coalizão aecista (inclusive o PT), mas não o DEM _o "poste" Márcio Lacerda (PSB) poderá se eleger no domingo. Em outras grandes cidades (Betim, Uberlândia, Montes Claros, Santa Luzia, Ipatinga, Ribeirão das Neves), o PSDB não está nem no páreo _PMDB e PT deverão colher mais vitórias.
Fora do Estado, o governador fez o que pôde para agradar os caciques tucanos, de Tasso Jereissati a Geraldo Alckmin, desde que antipáticos ao serrismo.
O prefeito Fernando Pimentel comprou briga dentro do PT ao bancar o pacto com Aécio na capital, mas fortaleceu-se para o governo em 2010 _se os petistas negarem legenda, sempre haverá o PSB para chamar de seu.

RIO DE JANEIRO
Sérgio Cabral tem a perspectiva de eleger o prefeito do Rio, façanha que um governador não obtém há 23 anos no Estado. O candidato do PMDB, Eduardo Paes, está na frente nas pesquisas _ele astutamente centrou a campanha na saúde (maior problema na percepção do eleitor local) e beneficiou-se do perfil de bom moço, fácil de contrapor a rivais tão carismáticos e/ou "rejeitáveis" como Marcelo Crivella (PRB) e Jandira Feghali (PC do B).

Na reta final, as pesquisas detectaram a subida do tucano-verde Fernando Gabeira. Ainda que haja essa reviravolta no segundo turno, Cabral terá colecionado golaços: tratorou o prefeito Cesar Maia e seu partido (DEM), convenceu as alas do PMDB fluminense a se unirem em torno dele e, sem se queimar com os caciques tucanos (Aécio e Serra são "amigos do peito"), tornou-se o embaixador de Lula no Sudeste. Garantiu que, na sucessão presidencial, será voz influente.
O PMDB também vislumbra vitórias em outras grandes cidades, como Campos (a volta do casal Garotinho) e Volta Redonda, e se acotovela com o PT na Baixada Fluminense.

ESPÍRITO SANTO
É considerada certa a reeleição de João Coser (PT) em Vitória já no primeiro turno. Resta saber se o prefeito se sentirá tentado a buscar o governo capixaba em 2010 _e se o governador Paulo Hartung (PMDB) topará dar ao petista o controle da teia suprapartidária que costurou no Estado (de fazer inveja a Aécio Neves). O vice-governador, Ricardo Ferraço (PSDB), estava na fila... Por enquanto, outro tucano, o ex-prefeito da capital Luiz Paulo Velloso Lucas, é a única figura importante a contestar a grande "concertação".

PARANÁ
As manchetes já estão prontas para o triunfo do prefeito tucano Beto Richa em Curitiba, com reeleição fácil no primeiro turno, caminho livre para tentar o governo do Estado daqui a dois anos e autoridade para palpitar na escolha do candidato do PSDB à Presidência. Mas digno de nota, também, é o esfacelamento da rede política que Roberto Requião montou em oito anos de administração. Como Quércia em São Paulo, o governador matou seu partido: o PMDB não lidera em nenhuma das grandes cidades paranaenses. Requião joga tudo pelo Senado em 2010, possivelmente em composição com o PT, o que põe em risco a reeleição de Osmar Dias (PDT). À margem _e à espera de um eventual tombo tucano e/ou de um furacão Dilma_, o PT trabalha(rá) para fixar o nome e a imagem de Gleisi Hoffmann.

SANTA CATARINA
O mau momento do governador Luiz Henrique (PMDB), preocupado em preservar o mandato (contestado na Justiça) e viabilizar sua ida ao Senado em 2010, abriu o cenário. Jorge Bornhausen (DEM) fará provavelmente a última tentativa de retomar a hegemonia no Estado. Para isso, forjou uma geração de candidatos competitivos nas grandes cidades, como Florianópolis, Joinville, Blumenau e Chapecó. O PT catarinense, que perdeu terreno em 2006, sem êxito implorou um contra-ataque de Lula. Vitórias de Bornhausen aumentarão a chance de o DEM liderar uma "tríplice aliança" (com PSDB e PMDB) antipetista em 2010. Já a reeleição do prefeito Dário Berger, em Florianópolis, dará poder de barganha ao PMDB. O ex-governador Esperidião Amin (PP) joga na capital as fichas que lhe restam.

RIO GRANDE DO SUL
O PT montou chapas competitivas nas maiores cidades (Caxias, Pelotas, Canoas etc). Mas nada aliviará o desastre que as pesquisas ainda não descartam em Porto Alegre: o partido de fora do segundo turno após 20 anos. Manuela D’Ávila (PCdoB), e não só a petista Maria do Rosário, tirou proveito da crise de corrupção que desgastou o governo do PSDB e hoje tem chances de enfrentar José Fogaça (PMDB), um prefeito que não empolga a capital. Ainda que escape do fiasco no domingo, o que é provável, o PT notou que, para viabilizar o plano de liderar uma coligação e retomar o Estado em 2010, no mínimo terá de escolher alguém com trânsito nos outros partidos de esquerda. Ou rezar para que a campanha de Dilma Rousseff à Presidência seja avassaladora a ponto de dobrar todo o Rio Grande do Sul.

BAHIA
Previu-se que o espólio de Antonio Carlos Magalhães ficaria entre o governador Jaques Wagner (PT) e o ministro Geddel Vieira de Lima (PMDB). O pós-carlismo, porém, poderá ter outro ACM: o deputado Neto (DEM), que aparece embolado na briga pelo segundo turno com dois nomes da base lulista _João Henrique (PMDB) e Walter Pinheiro (PT). No interior, Jaques & Geddel farão a festa. Lula pôs em risco a parceria ao interferir em algumas cidades, mas o pragmatismo de Geddel deverá prevalecer, agora e em dois anos _no cenário mais provável, sairá para senador e apoiará a reeleição de Jaques (José Gabrielli, presidente da Petrobras, poderá completar a chapa ao Senado). O ex-governador César Borges (PR, ou DEM enrustido) manterá algumas prefeituras e se fixará como azarão para 2010.

CEARÁ
As eleições poderão culminar com novo revés político de Tasso Jereissati (PSDB), o recolhimento de Ciro Gomes (PSB) e a consagração de Luizianne Lins (PT). Tudo dependerá da (provável) vitória em primeiro turno da prefeita petista de Fortaleza. Tasso e Ciro apostaram em Patrícia Saboya (PDT), mas a senadora jamais passou do 3º lugar nas pesquisas. Reeleita, Luizianne se firmará como um dos pólos da política estadual e porá em risco a hegemonia dos irmãos Gomes (Ciro e o governador Cid, apoiados por Tasso). Ciro bateu muito na prefeita nas últimas semanas, aparentemente convencido de que o PT não aceitará ser coadjuvante no projeto presidencial dele. O deputado termina a campanha com farol baixo, falando em sair como vice genérico de chapa lulista em 2010 (de Dilma, de Aécio, tanto faz).

PERNAMBUCO
A eleição em Recife, que foi parar na Justiça, tem potencial para reconfigurar o cenário político do Estado. Até aqui, o governador Eduardo Campos (PSB) colheu a maior parte dos frutos do lulismo no Estado. Destruiu as bases do ex-governador Jarbas Vasconcelos (PMDB) e acuou DEM, PSDB e PPS. Se eleger no primeiro turno o "poste" João da Costa, porém, o prefeito João Paulo (PT) terá cacife para vôo mais ambicioso _talvez, idêntico ao de Campos. Armando Monteiro Neto, presidente da Confederação Nacional da Indústria e deputado do PTB, sairá para o Senado e poderá ser o fiel da balança no duelo lulista (ou a argamassa da coalizão). Outros líderes históricos, como os senadores Marco Maciel (DEM) e Sérgio Guerra (PSDB), vêem diminuir em 2008 as chances de reeleição daqui a dois anos.

MARANHÃO
O confronto entre as forças pró-Sarney e anti-Sarney de novo dá o tom das eleições. O governador Jackson Lago (PDT) apostou no PSDB contra a tentativa do ex-presidente de retomar as principais cidades e alavancar a candidatura da filha, a senadora Roseana, ao governo do Estado em 2010. Tucanos com apoio de Lago lideram em São Luís, Imperatriz e Açailândia, por exemplo. Para impedir a vitória no primeiro turno de João Castelo na capital, Sarney ungiu a candidatura do comunista Flávio Dino.

ALAGOAS
Cícero Almeida (PP) deverá se reeleger em Maceió, possivelmente com a maior votação proporcional das capitais, e carimbar o passaporte para a disputa do governo, hoje nas mãos do tucano Teotônio Vilela Filho. Renan Calheiros (PMDB) pensa na sua recondução ao Senado e já não descarta compor com o prefeito. Fernando Collor (PTB), outro aspirante a 2010, dedica-se à eleição do filho em Rio Largo. Na capital, a presidenciável Heloísa Helena (PSol) tenta se eleger vereadora e retomar a vida pública.

RIO GRANDE DO NORTE
O PSB da governadora Wilma de Faria, o PMDB do presidente do Senado, Garibaldi Alves, e o PT se uniram com um único propósito: dinamitar os alicerces de José Agripino (DEM). O algoz do governo Lula no Senado, porém, contra-atacou em alto estilo. Sua afilhada política, Micarla de Sousa, vestida com o verde do PV, decolou em Natal. Confirmada a vitória dela, o senador terá mantido chances de renovar o mandato em 2010. Daí Lula ter resolvido fazer comícios na capital potiguar na última semana.

PIAUÍ
Tudo parece encaminhado em Teresina. Sílvio Mendes (PSDB) deverá renovar o mandato, talvez neste domingo, e já faz planos para o governo do Estado. Com isso, a votação mais interessante se dará em Parnaíba. Lula mandou, e o PT obedeceu: apoiou o PTB para tentar bater a mulher do senador Mão Santa, do PMDB não alinhado ao Planalto. Não se trata só de picuinha. O objetivo é amestrar o PMDB do Piauí em torno do governador petista Wellington Dias e de uma chapa antitucana em 2010.

PARAÍBA
Com 74% de ótimo/bom no Datafolha, Ricardo Coutinho (PSB) deverá se reeleger no primeiro turno em João Pessoa. Enxotado em 2003 do PT (que hoje procura colar nele), o prefeito da capital tem tudo para aproveitar em 2010 o vácuo de poder que o governador Cássio Cunha Lima (PSDB) deixará _acusado de fazer uso eleitoral de verbas públicas, ele luta na Justiça para terminar o mandato. Em Campina Grande, a votação só terá um desfecho no TSE. Motivo? Uso eleitoral de verbas públicas.

SERGIPE
A fatura em Aracaju parece liqüidada. Homem de confiança do governador Marcelo Déda (PT) e primeiro militante do PC do B a administrar uma capital brasileira (assumiu a prefeitura quando o petista se lançou ao governo), Edvaldo Nogueira deverá ganhar já no primeiro turno. Dois caciques da política local, Albano Franco (PSDB) e Jackson Barreto (PMDB), já se conformaram e aderiram à "onda vermelha". O ex-governador João Alves Filho (DEM) marca posição com um "anticandidato" (o genro).

GOIÁS
As eleições giram em torno de ex-governadores. O Planalto fixou a meta de lançar candidatos fortes nas principais cidades e desmontar as bases de Marconi Perillo, hoje senador pelo PSDB. Em Goiânia, é considerada certa a vitória em primeiro turno de Íris Rezende (PMDB), com apoio do PT. Maguito Vilela (PMDB) também deverá emplacar no domingo em Aparecida. O xadrez de 2010, contudo, aguarda a decisão do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, que cogita sair para o governo.

MATO GROSSO
O afilhado do governador Blairo Maggi (PR) ameaça levar ao segundo turno a eleição em Cuiabá, que parecia selada em favor do prefeito (e aspirante a governador) Wilson Santos (PSDB). Uma candidatura do PP, também da base, impediu o mergulho de Lula _e o tucano aproveitou e pôs uma irmã do presidente na sua propaganda de TV. A prioridade de Maggi, no entanto, é Rondonópolis, seu reduto eleitoral. Jayme Campos (DEM), provável rival ao Senado em 2010, tenta dar o troco em Várzea Grande.

MATO GROSSO DO SUL
Terceiro prefeito mais bem avaliado do país (78% de ótimo/bom no Datafolha), Nelson Trad deverá ter uma reeleição tão tranqüila que a única campanha que hoje mobiliza Campo Grande é para ser cidade-sede da Copa-2014. Como o governador André Puccinelli é do mesmo partido (PMDB), também ostenta índice alto de aprovação e está no primeiro mandato, as chances de turbulência até 2010 são pequenas. O PT, que comandou o Estado de 1999 a 2006, deverá fazer figuração nas principais cidades.

TOCANTINS
A equilibrada eleição em Palmas reproduz as três pontas do embate político do Estado: o PT, que tenta reeleger Raul Filho e viabilizar uma aliança para 2010; o PSDB, que banca um candidato do PV com o objetivo de pavimentar a volta ao poder do clã Siqueira Campos (o ex-governador e seu filho, ex-senador); e o DEM, que relançou a ex-prefeita Nilmar Ruiz com a ambição de clonar a campanha que elegeu a senadora Kátia Abreu em 2006 e cimentar a parceria com o governador Marcelo Miranda (PMDB).

PARÁ
O 5 de outubro será um teste para o casamento do PT com o PMDB de Jader Barbalho, que, em 2006, conduziu a petista Ana Júlia Carepa ao governo do Estado. Em Santarém (PT) e Ananindeua (PMDB), os partidos se uniram e têm chances de ganhar. Em Belém, porém, lançaram candidatos próprios e hoje correm o risco de nem chegar ao segundo turno. A divisão facilitou as coisas para a oposição. As pesquisas põem Valéria Pires Franco (DEM) no tira-teima contra o prefeito Duciomar Costa (PTB).

AMAZONAS
Ainda que seu candidato em Manaus, Omar Aziz (PMN), contrarie as pesquisas e evite ser varrido no primeiro turno, Eduardo Braga (PMDB) sairá das eleições preocupado com a perspectiva de fazer o sucessor: 1) Seu antecessor, Amazonino Mendes (PTB), ressurgiu como favorito na capital; 2) O PT não só lançou vôo solo como usou a campanha para apedrejar o governador; 3) O ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento (PR), outro que sonha com 2010, planta votos com a inauguração de obras do PAC.

RORAIMA
Na capital, Boa Vista, a recondução ao cargo de Iradilson Sampaio (PSB) é considerada segura _ele tem o dobro das intenções de voto do deputado Luciano Castro (PR). Por isso a eleição mais interessante do Estado menos populoso do país acontecerá em Pacaraima, na reserva Raposa/Serra do Sol. O prefeito Paulo César Quartiero (DEM), líder dos arrozeiros e defensor da revisão da demarcação contínua do território indígena (em análise pelo Supremo Tribunal Federal), busca outro mandato.

ACRE
A hegemonia do PT deverá sair das eleições sem arranhão. Seja por conta da reeleição de Raimundo Angelim em Rio Branco, prevista com larga vantagem. Seja por conta do não-aparecimento de liderança capaz de galvanizar a oposição. Os irmãos Viana preparam, desse modo, o banquete em 2010: o senador Tião é nome certo do partido ao governo do Estado e o ex-governador Jorge não descarta tentar o Senado (talvez em ambiciosa dobradinha petista com o atual governador, Binho Marques).

RONDÔNIA
O início das obras da usina de Santo Antônio, no rio Madeira, poderia agitar a votação em Porto Velho. A economia local vive um boom, a infra-estrutura corre risco de colapso com a invasão de mão-de-obra e há uma série de alertas de riscos ambientais. Nada disso, porém, pareceu influir no cenário eleitoral. Roberto Sobrinho (PT), em aliança com o PMDB do senador Valdir Raupp, não deverá ter trabalho para renovar o mandato e impor nova derrota ao grupo do governador Ivo Cassol (sem partido).

AMAPÁ
Macapá é uma das poucas capitais em que está selada uma troca de guarda. Tudo por conta da desastrosa administração do petista João Henrique, a mais mal avaliada do país segundo o Datafolha (somente 11% de ótimo/bom). Camilo Capiberibe (PSB), filho do ex-senador João e da ex-deputada Janete, ambos cassados em 2004 sob a acusação de compra de votos e que procuram voltar à cena, e Roberto Góes (PDT), primo do governador Waldez (PDT), alternam-se na liderança nas pesquisas de intenção de voto.

texto de 03.out.2008

O que está em jogo - os partidos


PT
O Planalto fixou três grandes metas nesta eleição: 1) sabotar as lideranças nacionais não-petistas; 2) assegurar o sucesso de ao menos um partido aliado nos principais municípios; 3) promover o crescimento das prefeituras petistas, tanto nas metrópoles como nas cidades pequenas. De sua parte, o PT fixou uma meta: obedecer cegamente o Planalto. O partido enfrenta as votações com uma unidade sem precedentes. Conhecido pela luta fratricida entre suas correntes, agarrou-se como pôde à popularidade recorde de Lula, aplaudiu o "dedazo" de Dilma Rousseff para 2010 e, em alguns casos, como Goiânia, topou alianças inimagináveis no passado.
Há chances de uma "onda vermelha" nas urnas. Mas, para que ela se confirme, o partido precisa: 1) saltar dos 400 municípios atuais para quase 700 e se consolidar como o substituto do PFL no interior; 2) crescer nas grandes cidades e capitais, para garantir palanques para 2010 e se contrapor ao "W.O." em Belo Horizonte e à ameaça de vexame em Porto Alegre (risco de ficar de fora do segundo turno após 20 anos); 3) conquistar posições em São Paulo, o território de José Serra, pré-candidato com mais musculatura contra o lulismo.

PSDB/DEM
Aliados antigos, PSDB e DEM jogaram de olho em 2010 _por estratégia, por afoiteza e/ou porque sabiam que o rolo compressor de Lula viria em 2008.
Os tucanos não resistiram à perspectiva de eleger o próximo presidente e racharam entre Serra e Aécio. Já os democratas, com o esfacelamento de suas bases no Nordeste e a derrocada de Cesar Maia no Rio, trabalhou para projetar nomes para as próximas majoritárias.
Com objetivos tão distintos, os partidos largaram como adversários em 14 capitais _diretamente em 4 e em coligações distintas em 10. Do mesmo lado, estão em apenas 11 _e, ainda assim, em 5 apoiaram outra sigla. Só em Curitiba, Teresina, Belém, Florianópolis, João Pessoa e Rio Branco um topou apoiar o outro na cabeça de chapa _com horizonte de vitória só nas quatro primeiras.
Em São Paulo e Salvador, os vôos solos resultaram em ataques mútuos duríssimos. Mas é curiosamente nessas cidades que os dois partidos depositam as esperanças de virar o jogo. Dando Kassab (ou Alckmin) em São Paulo e ACM Neto em Salvador, o PT não terá crescido como pretendia nas capitais _e a oposição terá assegurado palanques importantes para se reaglutinar em 2010.

PSB/PDT/PC do B
No varejo, cada um dos três partidos deverá sair das eleições com algo do que se gabar. O PSB exaltará a vitória em Belo Horizonte (apesar do candidato escolhido pelo tucano Aécio) e das reeleições em João Pessoa e Boa Vista. O PC do B falará do triunfo em Aracaju e, no mínimo, da empolgante campanha em Porto Alegre. O PDT dirá que sobreviveu ao escândalo que pilhou um de seus líderes (Paulinho Pereira) e assegurou cidades importantes como Campinas e Niterói.
No atacado, no entanto, o chamado "bloquinho" não deverá alcançar as metas que fixou no início do ano: 1) Não terá reforçado sua posição dentro da coalizão de Lula nem contido o ímpeto "hegemonista" do PT (sob todos os aspectos, o partido do presidente avançará); 2) Não terá avançado como um bloco nas prefeituras (nas grandes cidades, os vôos solos foram mais numerosos do que as candidaturas em conjunto); 3) Não terá divulgado o nome de Ciro Gomes à sucessão presidencial (diante dos sinais de Lula na direção de Dilma Rousseff, o deputado cearense preferiu se recolher, não se indispor com o PT nacional e mergulhar na campanha em seu Estado, sobretudo para evitar/adiar o revés em Fortaleza).

PMDB
O cenário é bem diferente para o partido que faturou todas as capitais nas primeiras eleições municipais pós-ditadura. O PMDB saberá só no segundo turno se cresceu nos municípios _ou se não encolheu. Dentre as capitais, é dada como certa a reeleição apenas em Goiânia e Campo Grande. No Rio, em Florianópolis, em Salvador e em Porto Alegre, o resultado ficará para o dia 26. Algo, de certa forma, frustrante, já que o partido se encastelou como nunca no governo Lula e, apesar da crise que abateu Renan Calheiros, conservou o controle do Senado (e, junto com o Planalto, da pauta legislativa).
Por vezes, o PMDB pareceu mais empenhado em negociar o controle da Câmara a partir de 2009 do que em avançar sobre as prefeituras. (Deverá trabalhar no Congresso para reabrir janelas para o troca-troca partidário e, dessa forma, seduzir eleitos por outras siglas.) Talvez tenha sido uma apatia tática, para não se indispor com ninguém e poder oferecer o vice tanto da chapa lulista quanto da tucana em 2010.
Por fim, as eleições marcam uma inflexão na carreira de alguns caciques. Novos líderes emergem nos seus redutos ou mesmo no partido, caso do governador Sérgio Cabral (RJ).

texto de 03.out.2008

O que está em jogo - os presidenciáveis


SE VOCÊ É DILMA, TORÇA PARA QUE...
...o PT aplique uma "onda vermelha" nas grandes cidades
(assegurará a ela palanques/máquinas para a campanha presidencial)
...o segundo turno não tenha muitos duelos de partidos aliados
(garantirá à ministra mais comícios neste ano, aumentando sua exposição)
...Heloísa Helena não se eleja vereadora em Maceió
(manterá fora do circuito a possível puxadora de votos de esquerda de 2010)

SE VOCÊ É SERRA, TORÇA PARA QUE...
...Gilberto Kassab não perca o embalo e vença em São Paulo
(indicará que o governador também consegue eleger um "poste")
...o PSDB ganhe ao menos uma das cidades petistas da Grande SP
(mostrará que a "onda vermelha" foi no máximo cor-de-rosa no Estado)
...ACM Neto e Fernando Gabeira avancem em Salvador e no Rio
(poderá reforçar pontes com outras siglas e fazer campanhas fora de SP)

SE VOCÊ É AÉCIO, TORÇA PARA QUE...
...Geraldo Alckmin opere o quase-milagre de ir ao segundo turno
(encorajará, no quintal de Serra, a ala do PSDB que não gosta de Serra)
...o PT avesso à concertação mineira não ganhe cidades importantes
(diminuirá as resistências petistas a uma nova aliança no Estado em 2010)
...o PMDB leve a melhor nos principais confrontos com o PT
(fortalecerá um partido da coalizão lulista bem mais fácil de seduzir)

SE VOCÊ É CIRO, TORÇA PARA QUE...
...Luizianne Lins não triunfe logo de cara em Fortaleza
(impedirá a consagração da prefeita como liderança cearense)
...Manuela D’Ávila passe para o segundo turno em Porto Alegre
(mostrará que o "bloquinho" de esquerda pode se contrapor ao PT)
...o PT não capitalize sozinho o lulismo no interior do Nordeste
(terá margem de manobra no seu principal reduto eleitoral)

SE VOCÊ ESTÁ CANSADO DESSES NOMES, TORÇA PARA QUE...
...Marta Suplicy arranque e fature já no primeiro turno em São Paulo
(dará à prefeita "legitimidade" para se oferecer como opção a Dilma)
...Sérgio Cabral vença na maioria dos grandes municípios do Rio
(incentivará o PMDB a pensar em arriscar um vôo solo daqui a dois anos)
...o PT ganhe em Salvador e goleie o PMDB no interior da Bahia
(aumentará o cacife nacional do governador petista Jaques Wagner)

texto de 03.out.2008