segunda-feira, 6 de julho de 2009

Campo dos sonhos

Da rápida aclamação de Dilma Rousseff à invenção de Ciro Gomes como candidato em São Paulo, as novidades mais importantes e surpreendentes do PT neste ano pré-eleitoral passam pela reconstrução do grupo que comandou o partido com mão-de-ferro no primeiro mandato de Lula e saiu estilhaçado do mensalão.
Núcleo do extinto Campo Majoritário, a corrente Construindo um Novo Brasil se fortaleceu dentro da legenda e prepara uma aliança com alas que se desgarraram em 2005. O objetivo é assegurar a presidência da sigla em novembro e o controle da política interna no pós-Lula.
Para essa coalizão, porém, as eleições de 2010 atrapalham. Ela não tem nomes competitivos para oferecer às principais votações (Presidência e governo de São Paulo). Os caciques caíram nos escândalos. Não surgiram novas lideranças.
Daí a boa vontade desses petistas com o "dedazo" de Lula na corrida pelo Planalto. Dilma nunca militou dentro do partido. Uma vitória dela não ameaçará imediatamente a reconstrução do Campo Majoritário.
Obedece à mesma lógica a ideia de transplantar Ciro Gomes. José Dirceu & Cia. sabem que vencer os tucanos em São Paulo em 2010 será quase impossível, mas sabem que a campanha tem o potencial de catapultar um novo nome para a eleição à prefeitura da capital em 2012.
Apavora esse grupo a possibilidade de que Lula faça essa escolha _como fez com Marta Suplicy em 1998 (derrotada para o governo, ela levou a prefeitura em 2000). E, pior, que o presidente escolha, desta vez, um candidato petista que não tenha se "reconciliado" com o mensalão. Um Fernando Haddad (ministro da Educação), por exemplo.
Por isso o lançamento afoito dos nomes do prefeito de Osasco e do ex-governador do Ceará. Se perder, a Emidio de Souza ou a Ciro só restará voltar pro seu quadrado. Já o novo Campo terá dois anos e céu aberto para consolidar uma candidatura de confiança para 2012.

coluna de 06.jul.2009

melchiades.filho@grupofolha.com.br

O país do futuro

A disputa no Senado, do atoleiro de Sarney ao cabo-de-guerra em torno da instalação de CPIs, não deve ser analisada à margem da corrida presidencial.
Tanto o governo federal como seus adversários sabem que Dilma Rousseff, ainda que tenha razões para martelar a comparação dos oito anos de Lula com os oito anos de FHC, não poderá fazer uma campanha somente retrospectiva.
A satisfação do brasileiro detectada pelas pesquisas de opinião não significa uma descarga automática de votos na candidata da situação. Nada impede que o eleitor considere um nome da oposição mais capacitado para preservar o que deu certo e realizar novos sonhos.
É por isso que, de um lado, Aécio Neves fala no pós-Lula e José Serra evita afrontar o Planalto e, de outro, o presidente insiste em programas que ultrapassam o calendário de seu mandato (PAC, Minha Casa). De certo modo, eles já travam a disputa desse futuro continuísta.
Para sobressair numa eleição sem vocação para o contraste e atender as expectativas do eleitorado (otimista até na crise econômica), Dilma terá, portanto, de jogar pra frente e lançar o que colegas de Planalto chamam de "mito novo".
O fato de a ministra ser desconhecida é ao mesmo tempo um trunfo e um transtorno. Dá aos marqueteiros liberdade para corrigir a imagem e inventar o discurso, mas torna mais difícil conferir credibilidade ao pacote final. Que "mito" pode prometer uma candidata que não tem retrospecto de promessas?
O pré-sal é a chave. A fabulosa receita estimada da exploração dos novos poços autoriza planos grandiosos. Dilma, que cuidou de energia no governo Lula, tem autoridade para anunciar a "revolução do bem-estar" bancada pelo petróleo.
Uma CPI da Petrobras permitiria à oposição atrapalhar a construção desse "mito novo"; a sobrevivência e a agonia de Sarney no Senado ajudam o governo a evitar a CPI.

coluna de 04.jul.2009

melchiades.filho@grupofolha.com.br