segunda-feira, 6 de julho de 2009

O país do futuro

A disputa no Senado, do atoleiro de Sarney ao cabo-de-guerra em torno da instalação de CPIs, não deve ser analisada à margem da corrida presidencial.
Tanto o governo federal como seus adversários sabem que Dilma Rousseff, ainda que tenha razões para martelar a comparação dos oito anos de Lula com os oito anos de FHC, não poderá fazer uma campanha somente retrospectiva.
A satisfação do brasileiro detectada pelas pesquisas de opinião não significa uma descarga automática de votos na candidata da situação. Nada impede que o eleitor considere um nome da oposição mais capacitado para preservar o que deu certo e realizar novos sonhos.
É por isso que, de um lado, Aécio Neves fala no pós-Lula e José Serra evita afrontar o Planalto e, de outro, o presidente insiste em programas que ultrapassam o calendário de seu mandato (PAC, Minha Casa). De certo modo, eles já travam a disputa desse futuro continuísta.
Para sobressair numa eleição sem vocação para o contraste e atender as expectativas do eleitorado (otimista até na crise econômica), Dilma terá, portanto, de jogar pra frente e lançar o que colegas de Planalto chamam de "mito novo".
O fato de a ministra ser desconhecida é ao mesmo tempo um trunfo e um transtorno. Dá aos marqueteiros liberdade para corrigir a imagem e inventar o discurso, mas torna mais difícil conferir credibilidade ao pacote final. Que "mito" pode prometer uma candidata que não tem retrospecto de promessas?
O pré-sal é a chave. A fabulosa receita estimada da exploração dos novos poços autoriza planos grandiosos. Dilma, que cuidou de energia no governo Lula, tem autoridade para anunciar a "revolução do bem-estar" bancada pelo petróleo.
Uma CPI da Petrobras permitiria à oposição atrapalhar a construção desse "mito novo"; a sobrevivência e a agonia de Sarney no Senado ajudam o governo a evitar a CPI.

coluna de 04.jul.2009

melchiades.filho@grupofolha.com.br

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