quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Kassabinho e 2012

Gilberto Kassab tem poucos motivos para brindar o ano novo. Não terá somente que se desdobrar para recuperar os índices de aprovação, que despencaram ao longo de 2009, mas reavaliar toda a sua estratégia política.
Por alguns meses, o DEM pensou em um voo mais ambicioso para o prefeito de São Paulo. Lançá-lo ao governo do Estado, por exemplo.
Kassab despontava como nova liderança dentro e fora do partido. Passara com louvor no teste das urnas em 2008. Por que perder o embalo? Além disso, há a desavença entre José Serra e o candidato tucano, Geraldo Alckmin. O governador não haveria de se opor à ideia de patrocinar dois nomes de sua base. No entanto, a administração Kassab derrapou feio em 2009 ao lidar com restrições orçamentárias. Não tomou decisões sensatas em muitas áreas cruciais, como varrição de ruas, merenda escolar e controle de enchentes. A Cidade Limpa virou a Cidade Descuidada.
Pior: Kassab mostrou-se indeciso. Cansou-se de anunciar "maldades" e depois recuar -um jogo sádico com o município, que comprometeu tanto a imagem do bom executivo como a do político afável. Quando enfim manteve a palavra, foi para aumentar o IPTU. Afe.
O eleitor, claro, reagiu. O boneco Kassabinho da campanha deve estar levando agulhadas de vodu. Em um ano, dobrou o número de paulistanos que acham ruim ou péssima a gestão -de 13% para 27%. Os que a consideram ótima ou boa caíram de 61% para 39%. A avaliação derreteu em todos os recortes: renda, sexo, idade e escolaridade. Sem o respaldo da cidade, Kassab torna-se "inelegível" em 2010.
Obriga o DEM, em vez de avançar no cenário estadual, a tentar proteger o municipal. Conseguirá um prefeito anêmico fazer o sucessor?
Os rivais pegaram a deixa. Perceberam que 2010 também servirá ao jogo de 2012. Não à toa, voltou-se a falar no PT nos nomes de Aloizio Mercadante e Fernando Haddad.

coluna de 30.dez.2009

melchiades.filho@grupofolha.com.br

Obstáculos põem Serra e Aécio no mesmo barco

Está certo que o recuo de Aécio Neves aumentou a pressão para que José Serra assuma a pré-campanha e por isso não veio no momento que o governador de São Paulo desejava. Mas é precipitação, ou torcida, afirmar que o gesto do mineiro é a prova definitiva de que os dois estarão distantes em 2010.
Pelo contrário, as dificuldades eleitorais que se aproximam põem Serra e Aécio no mesmo barco. Na marra. Estejam eles ou não na mesma chapa à Presidência da República.
Primeiro, não é verdade que Aécio estragou a virada de ano de Serra. Ao se recolher, o mineiro deu a senha para todos os oposicionistas -e para alguns governistas insatisfeitos com Dilma Rousseff. A essas forças políticas agora resta uma só referência: o governador paulista.
Elas terão de procurá-lo, adulá-lo, tentar de alguma maneira se integrar ao projeto. Questão de sobrevivência. Nas próximas semanas, a desistência de Aécio tende a ter um efeito agregador. Exemplo: a direção do DEM, que há 15 dias espinafrava Serra, hoje se ajoelha no Palácio dos Bandeirantes.
O instinto de sobrevivência também deverá prevalecer ao longo de 2010. Se Dilma Rousseff vencer em outubro e Lula fechar o mandato com alta popularidade, não será absurdo projetar mais 8 ou 12 anos de PT no poder: Lula voltaria em 2014 e um abraço. E se, para o PSDB, dois quadriênios de Lula já foram complicados de administrar, imagine uma prorrogação desse tamanho. Daí a necessidade de retomar o Planalto no ano que vem, não importa com qual candidato.
Se o nome for mesmo o de Serra, será fundamental atrair Aécio e o voto mineiro. Se houver uma guinada e Aécio acabar escolhido, terá de engajar Serra e o eleitorado paulista. Não haverá espaço para recuos. Como mostrou o Datafolha, Dilma não parou de subir. Se Serra ou Aécio fizer corpo mole, estarão todos condenados. Do mesmo modo, para o PSDB será um trauma enorme perder o governo de Minas Gerais. A eleição de Aécio para o Senado é tranquila, mesmo se ele ficar alheio à campanha nacional. Mas não é nada garantida a situação de quem o governador pretende ver como sucessor.
O vice Antonio Anastasia, desconhecido, é um candidato difícil de carregar. Ainda aparece modesto nas pesquisas. O oposto do concorrente do PT, seja o ministro Patrus Ananias ou o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel, ambos bons de voto. Com um petista no governo mineiro, o espaço de Aécio diminuirá.
Por isso, ainda que saia ao Senado, Aécio sabe que precisará de toda ajuda disponível para eleger Anastasia. Não poderá descartar uma candidatura nacional competitiva do PSDB.

artigo publicado em 20.dez.2009