quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Kassabinho e 2012

Gilberto Kassab tem poucos motivos para brindar o ano novo. Não terá somente que se desdobrar para recuperar os índices de aprovação, que despencaram ao longo de 2009, mas reavaliar toda a sua estratégia política.
Por alguns meses, o DEM pensou em um voo mais ambicioso para o prefeito de São Paulo. Lançá-lo ao governo do Estado, por exemplo.
Kassab despontava como nova liderança dentro e fora do partido. Passara com louvor no teste das urnas em 2008. Por que perder o embalo? Além disso, há a desavença entre José Serra e o candidato tucano, Geraldo Alckmin. O governador não haveria de se opor à ideia de patrocinar dois nomes de sua base. No entanto, a administração Kassab derrapou feio em 2009 ao lidar com restrições orçamentárias. Não tomou decisões sensatas em muitas áreas cruciais, como varrição de ruas, merenda escolar e controle de enchentes. A Cidade Limpa virou a Cidade Descuidada.
Pior: Kassab mostrou-se indeciso. Cansou-se de anunciar "maldades" e depois recuar -um jogo sádico com o município, que comprometeu tanto a imagem do bom executivo como a do político afável. Quando enfim manteve a palavra, foi para aumentar o IPTU. Afe.
O eleitor, claro, reagiu. O boneco Kassabinho da campanha deve estar levando agulhadas de vodu. Em um ano, dobrou o número de paulistanos que acham ruim ou péssima a gestão -de 13% para 27%. Os que a consideram ótima ou boa caíram de 61% para 39%. A avaliação derreteu em todos os recortes: renda, sexo, idade e escolaridade. Sem o respaldo da cidade, Kassab torna-se "inelegível" em 2010.
Obriga o DEM, em vez de avançar no cenário estadual, a tentar proteger o municipal. Conseguirá um prefeito anêmico fazer o sucessor?
Os rivais pegaram a deixa. Perceberam que 2010 também servirá ao jogo de 2012. Não à toa, voltou-se a falar no PT nos nomes de Aloizio Mercadante e Fernando Haddad.

coluna de 30.dez.2009

melchiades.filho@grupofolha.com.br

Obstáculos põem Serra e Aécio no mesmo barco

Está certo que o recuo de Aécio Neves aumentou a pressão para que José Serra assuma a pré-campanha e por isso não veio no momento que o governador de São Paulo desejava. Mas é precipitação, ou torcida, afirmar que o gesto do mineiro é a prova definitiva de que os dois estarão distantes em 2010.
Pelo contrário, as dificuldades eleitorais que se aproximam põem Serra e Aécio no mesmo barco. Na marra. Estejam eles ou não na mesma chapa à Presidência da República.
Primeiro, não é verdade que Aécio estragou a virada de ano de Serra. Ao se recolher, o mineiro deu a senha para todos os oposicionistas -e para alguns governistas insatisfeitos com Dilma Rousseff. A essas forças políticas agora resta uma só referência: o governador paulista.
Elas terão de procurá-lo, adulá-lo, tentar de alguma maneira se integrar ao projeto. Questão de sobrevivência. Nas próximas semanas, a desistência de Aécio tende a ter um efeito agregador. Exemplo: a direção do DEM, que há 15 dias espinafrava Serra, hoje se ajoelha no Palácio dos Bandeirantes.
O instinto de sobrevivência também deverá prevalecer ao longo de 2010. Se Dilma Rousseff vencer em outubro e Lula fechar o mandato com alta popularidade, não será absurdo projetar mais 8 ou 12 anos de PT no poder: Lula voltaria em 2014 e um abraço. E se, para o PSDB, dois quadriênios de Lula já foram complicados de administrar, imagine uma prorrogação desse tamanho. Daí a necessidade de retomar o Planalto no ano que vem, não importa com qual candidato.
Se o nome for mesmo o de Serra, será fundamental atrair Aécio e o voto mineiro. Se houver uma guinada e Aécio acabar escolhido, terá de engajar Serra e o eleitorado paulista. Não haverá espaço para recuos. Como mostrou o Datafolha, Dilma não parou de subir. Se Serra ou Aécio fizer corpo mole, estarão todos condenados. Do mesmo modo, para o PSDB será um trauma enorme perder o governo de Minas Gerais. A eleição de Aécio para o Senado é tranquila, mesmo se ele ficar alheio à campanha nacional. Mas não é nada garantida a situação de quem o governador pretende ver como sucessor.
O vice Antonio Anastasia, desconhecido, é um candidato difícil de carregar. Ainda aparece modesto nas pesquisas. O oposto do concorrente do PT, seja o ministro Patrus Ananias ou o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel, ambos bons de voto. Com um petista no governo mineiro, o espaço de Aécio diminuirá.
Por isso, ainda que saia ao Senado, Aécio sabe que precisará de toda ajuda disponível para eleger Anastasia. Não poderá descartar uma candidatura nacional competitiva do PSDB.

artigo publicado em 20.dez.2009

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Corrida de Dilma, por ora, é contra Ciro

É para evitar que Ciro Gomes vire, por inércia, o candidato oficial da base governista que o comando da candidatura de Dilma Rousseff passou, nas últimas duas semanas, a se movimentar tão freneticamente.
O plano original era que a trajetória de Dilma fosse um foguete com dois estágios: em 2009, a consolidação do nome junto à militância do PT e do governo federal; em 2010, a divulgação maciça da herdeira de Lula em uma campanha plebiscitária contra os tucanos.
A candidatura de Ciro (PSB), mais até do que a de Marina Silva (PV), rasgou o roteiro, porém. Ciro resiste mais forte do que o previsto nas pesquisas, à frente da ministra da Casa Civil em quase todos os cenários.
A engenharia do foguete Dilma teve, então, de trabalhar com um terceiro estágio, intermediário: ultrapassar, antes de fevereiro, o deputado cearense e convencê-lo a aceitar uma tarefa auxiliar do projeto (concorrer ao governo de SP).
Para esvaziar a candidatura nacional de Ciro, Planalto e PT aceleram em duas frentes.
Uma, institucional, é antecipar a aliança de Dilma com o máximo de partidos da coalizão lulista. Por isso a ministra passou a se reunir com tantas siglas: PMDB, PR, PRB, PP e os parceiros do PSB no "bloquinho" (PC do B e PDT). O objetivo é estrangular o PSB, deixando-o sem parceiros nem tempo de TV, a ponto de desestimular o emotivo Ciro e, sobretudo, induzir a cúpula da legenda a ficar desconfortável com o voo solo.
A outra frente é a da pura propaganda. Dilma tenta compensar o tempo e a energia perdidos no tratamento do câncer, no embate contra Lina Vieira e no abraço com José Sarney. Daí ter trocado as reuniões internas de trabalho por qualquer evento público filmável/fotografável _pescaria no São Francisco, culto evangélico etc.
Além da agenda de governo travestida, a ministra tem outros trunfos publicitários para deixar Ciro para trás ainda em 2009: 1) as eleições internas do PT, que provocarão milhares de filiados e muito debate em todo o país, em novembro; 2) o programa do partido em rede nacional de TV, em dezembro; 3) o abandono da peruca usada durante a quimioterapia e a aparição com o cabelo curto, escovinha _um "Jornal Nacional" capaz tanto de humanizar a candidata como de reforçar sua imagem de dura na queda.

artigo publicado em 21.out.2010

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

A Receita desandou

São gravíssimas, mas não surpreendentes, a acusação da ex-secretária da Receita de que o Planalto lhe pediu que acelerasse a conclusão de auditoria determinada pela Justiça nos negócios da família Sarney e a apuração, feita pela Folha, de que a recusa dela em se curvar à pressão política acabou contribuindo para sua demissão.
Não surpreendem porque as coisas estavam mesmo mal contadas. O governo não havia produzido explicação plausível para a dispensa de Lina Vieira. Em 11 meses, ela não teve senão uma atuação discreta e corajosa, rebatendo tentativas de anistiar maus contribuintes e ordenando aperto inédito a grandes empresas e sonegadores, aquilo para o que havia sido nomeada.
Não surpreendem, também, porque o governo Lula coleciona episódios em que as fronteiras das instituições e os limites republicanos foram desconsiderados em razão de interesses mais imediatos.
Parte disso se deve ao entendimento de que o Estado precisa ser protagonista, não se omitir nas grandes questões, se defender e se impor, tanto no campo político como no gerencial. Nada é trivial na administração pública, gosta de dizer, com razão, Dilma Rousseff.
Parte disso, porém, se deve à aplicação distorcida dessa ideia.A tratorada na Anac, o arranjo dos arquivos da Casa Civil, a normatização da Polícia Federal, tudo seria justificável não fossem os bastidores mais tarde desvendados: o favorecimento ao compadre de Lula em negócios do setor aéreo, o bombardeio de rivais com dossiês, o engavetamento de investigações que se aproximavam do Planalto.
Lula deixará legados positivos, mas não no campo institucional, no aperfeiçoamento de um Estado transparente e eficiente. Há o belo cadastro do Ministério de Desenvolvimento Social. Mais o quê?
Segundo a moral do lulismo, o Estado só é protagonista se Lula ou seu grupo estiverem no poder.

coluna de 10.ago.2009

melchiades.filho@grupofolha.com.br

sábado, 8 de agosto de 2009

Marina quando acende

Nem os retoques do pré-sal nem a ruína de Sarney. O que mais preocupa os estrategistas do Planalto é a possibilidade de Marina Silva se lançar à Presidência pelo Partido Verde e, com isso, inviabilizar o caráter plebiscitário que Lula queria dar à sucessão.
O plano do presidente ia bem. Para garantir o PMDB na aliança eleitoral, ele conteve o PT nos Estados e ratificou o apoio a José Sarney. Para limpar a cédula nacional, autorizou o transplante de Ciro Gomes para São Paulo e, com a ajuda de Renan Calheiros, limpou o terreno em Alagoas para que Heloísa Helena (PSOL) prefira o certo (o retorno ao Senado) ao duvidoso (outra candidatura estridente à Presidência).
Com a entrada de Marina, porém, não haverá a polarização Lula x anti-Lula. Não só porque a ex-ministra será uma terceira via, capaz de atrair o voto desgarrado, mas também porque ela tem perfil anfíbio.
É mais petista do que a candidata do PT. Atuou 30 anos no partido, 20 a mais do que Dilma. Tem uma trajetória de superação como a de Lula _filha de nordestinos, ex-empregada doméstica, analfabeta até a adolescência (cursou o Mobral e hoje possui diploma universitário), militante sindical e de movimentos sociais, casada e mãe de família.
Ao mesmo tempo, Marina não será uma solução de continuidade. Não esteve envolvida nos escândalos do governo Lula (mensalão, aloprados, dossiê contra FHC) e colecionou divergências com Dilma _não quis ceder a empreiteiros e ruralistas nem operou para criar ou privilegiar grandes corporações.
Sua candidatura pode murchar como a do pedetista Cristovam Buarque, em 2006. Ou decolar como a de Fernando Collor, do igualmente nanico PRN, em 1989.
Mas não é apenas isso que parece mover Marina, e sim a oportunidade valiosa de incluir questões ambientais na pauta nacional de debates durante um ano e arrancar compromissos de candidatos avessos ao desenvolvimento sustentável.

coluna de 08.ago.2009

melchiades.filho grupofolha.com.br

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Campo dos sonhos

Da rápida aclamação de Dilma Rousseff à invenção de Ciro Gomes como candidato em São Paulo, as novidades mais importantes e surpreendentes do PT neste ano pré-eleitoral passam pela reconstrução do grupo que comandou o partido com mão-de-ferro no primeiro mandato de Lula e saiu estilhaçado do mensalão.
Núcleo do extinto Campo Majoritário, a corrente Construindo um Novo Brasil se fortaleceu dentro da legenda e prepara uma aliança com alas que se desgarraram em 2005. O objetivo é assegurar a presidência da sigla em novembro e o controle da política interna no pós-Lula.
Para essa coalizão, porém, as eleições de 2010 atrapalham. Ela não tem nomes competitivos para oferecer às principais votações (Presidência e governo de São Paulo). Os caciques caíram nos escândalos. Não surgiram novas lideranças.
Daí a boa vontade desses petistas com o "dedazo" de Lula na corrida pelo Planalto. Dilma nunca militou dentro do partido. Uma vitória dela não ameaçará imediatamente a reconstrução do Campo Majoritário.
Obedece à mesma lógica a ideia de transplantar Ciro Gomes. José Dirceu & Cia. sabem que vencer os tucanos em São Paulo em 2010 será quase impossível, mas sabem que a campanha tem o potencial de catapultar um novo nome para a eleição à prefeitura da capital em 2012.
Apavora esse grupo a possibilidade de que Lula faça essa escolha _como fez com Marta Suplicy em 1998 (derrotada para o governo, ela levou a prefeitura em 2000). E, pior, que o presidente escolha, desta vez, um candidato petista que não tenha se "reconciliado" com o mensalão. Um Fernando Haddad (ministro da Educação), por exemplo.
Por isso o lançamento afoito dos nomes do prefeito de Osasco e do ex-governador do Ceará. Se perder, a Emidio de Souza ou a Ciro só restará voltar pro seu quadrado. Já o novo Campo terá dois anos e céu aberto para consolidar uma candidatura de confiança para 2012.

coluna de 06.jul.2009

melchiades.filho@grupofolha.com.br

O país do futuro

A disputa no Senado, do atoleiro de Sarney ao cabo-de-guerra em torno da instalação de CPIs, não deve ser analisada à margem da corrida presidencial.
Tanto o governo federal como seus adversários sabem que Dilma Rousseff, ainda que tenha razões para martelar a comparação dos oito anos de Lula com os oito anos de FHC, não poderá fazer uma campanha somente retrospectiva.
A satisfação do brasileiro detectada pelas pesquisas de opinião não significa uma descarga automática de votos na candidata da situação. Nada impede que o eleitor considere um nome da oposição mais capacitado para preservar o que deu certo e realizar novos sonhos.
É por isso que, de um lado, Aécio Neves fala no pós-Lula e José Serra evita afrontar o Planalto e, de outro, o presidente insiste em programas que ultrapassam o calendário de seu mandato (PAC, Minha Casa). De certo modo, eles já travam a disputa desse futuro continuísta.
Para sobressair numa eleição sem vocação para o contraste e atender as expectativas do eleitorado (otimista até na crise econômica), Dilma terá, portanto, de jogar pra frente e lançar o que colegas de Planalto chamam de "mito novo".
O fato de a ministra ser desconhecida é ao mesmo tempo um trunfo e um transtorno. Dá aos marqueteiros liberdade para corrigir a imagem e inventar o discurso, mas torna mais difícil conferir credibilidade ao pacote final. Que "mito" pode prometer uma candidata que não tem retrospecto de promessas?
O pré-sal é a chave. A fabulosa receita estimada da exploração dos novos poços autoriza planos grandiosos. Dilma, que cuidou de energia no governo Lula, tem autoridade para anunciar a "revolução do bem-estar" bancada pelo petróleo.
Uma CPI da Petrobras permitiria à oposição atrapalhar a construção desse "mito novo"; a sobrevivência e a agonia de Sarney no Senado ajudam o governo a evitar a CPI.

coluna de 04.jul.2009

melchiades.filho@grupofolha.com.br

sexta-feira, 19 de junho de 2009

O velho truque do baralho novo

A repentina ideia de escalar Ciro Gomes para disputar o governo de São Paulo tem uma consequência imediata. Força os institutos de pesquisa a lidar com o "fato novo" estadual e, com isso, praticamente garante um impulso à candidatura nacional de Dilma Rousseff.
Há duas maneiras principais de construir um nome para uma eleição majoritária: torná-lo conhecido e valorizar os seus atributos.
Para divulgar o nome da ministra, existe pouco a fazer além do que tem sido feito desde o ano passado. A "caravana do PAC" não pode visitar dois lugares ao mesmo tempo.
Quanto às virtudes, por ora estão em jogo as que Dilma tomou emprestadas de Lula. E estas já são mais do que sabidas e valorizadas.
Se nada mudar, governo e PT apostam que Dilma continuará a crescer em 2009, mas menos rapidamente do que até aqui. Por isso a conveniência de uma "novidade".
O triunfo sobre o câncer linfático poderia fazer essa função catalisadora. Mas ele não poderá ser anunciado antes de setembro _e não há certeza quanto à adequação do uso eleitoral da imagem da ministra assim que encerrar a quimioterapia.
Não há contraindicação, porém, para o "transplante" de Ciro e para a mudança artificial das cédulas que Datafolha, Vox Populi e Ibope submetem a seus entrevistados.
As intenções de voto em Ciro para a Presidência tendem a migrar para a outra candidata da base lulista. Mas, ainda que se dividam igualmente entre os principais concorrentes, será fácil promover a boa "notícia": "Dilma chega a 30%!".
Resta saber por que Ciro, líder nas pesquisas nacionais em alguns cenários, não recusou de bate-pronto o papel secundário em São Paulo.

Será a birra antiga de Serra? Inapetência? Deferência a Lula? Ou finalmente lhe caiu a ficha de que nunca foi o Plano B do Planalto, de que nem no próprio partido é o favorito do presidente e de Dilma (o privilégio cabe ao governador pernambucano, Eduardo Campos)?

coluna de 19.jun.2009

melchiades.filho@grupofolha.com.br

terça-feira, 16 de junho de 2009

Vanguardas e atrasos

Talvez seja cedo para decretar a débâcle de José Sarney ou sentenciar que o ex-presidente da República cometeu um erro ao reassumir a direção do Senado.
É verdade que a Casa vive momento de total descrédito, colhida por uma avalanche sem precedentes de denúncias _de nomeações secretas a servidores fantasmas, de mansões ocultas a aviões fretados.
É igualmente verdade que Sarney está afundado até o pescoço nos escândalos. A cada semana, precisa repetir um "eu não sabia". Já teve de pedir desculpas, divulgar seu contracheque e devolver dinheiro.
Mas é verdade, também, que, graças à vitória de Sarney em fevereiro, o chamado "PMDB do Senado" voltou a capturar a atenção de Lula. O Planalto, que costuma desdenhar do Legislativo, não poderá ignorar o grupo que terá o controle da CPI da Petrobras, ameaça potencial à candidatura de Dilma Rousseff.
Assim como é verdade que, da privilegiada posição no Congresso, o ex-presidente pôde zelar por sua rede de influências no setor de energia. Uma lei foi aprovada para permitir à Eletrobrás fazer compras a toque de caixa. O sarneyzista Edison Lobão é o ministro envolvido na regulação do pré-sal.
É verdade, ainda, que a PF ficou mais "republicana" e diminuiu a publicidade dos inquéritos que investigam obras nos Estados em que o clã Sarney atua (Operação Navalha) e transações financeiras de empresas da família (Boi Barrica).
Por fim, é verdade que, desde fevereiro, o TSE julgou três governadores e beneficiou o PMDB nos três casos. Derrotada nas urnas, Roseana Sarney levou o Maranhão no tapetão.
Como se vê, Sarney segue ocupado com o exercício do poder. É isso que o move, não os aplausos _nunca os recebeu, nem pela transição para a Nova República. Será uma surpresa se ele entregar os pontos porque a "biografia foi manchada" pelos vícios do Senado. É mais provável que a apoplexia dos últimos dias seja o preparo do contra-ataque.

coluna de 16.jun.2009

melchiades.filho@grupofolha.com.br

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Minc e o cérebro

Carlos Minc levou bronca de Lula, foi enquadrado por Dilma e ouviu até palavrão de colegas de governo. Mas o Planalto deve um enorme favor ao ministro por ter provocado tanta "algazarra".
Minc foi escolhido para substituir Marina Silva só porque topou o papel de carimbador expresso de obras de infraestrutura. Tem seguido o roteiro, aliás. As usinas de Jirau e Santo Antônio, por exemplo, receberam sinal verde apesar dos senões de técnicos do Ibama.
Daí a surpresa que causaram as "denúncias" do ministro do Meio Ambiente de derrotas em sua área, notadamente a medida provisória que regulariza a posse de terras na Amazônia. Foi Lula, afinal, quem produziu a "MP da Grilagem". E foi a base governista na Câmara que aprovou a redação final. Durante semanas, somente uma voz no PT se elevou contra a manobra: não a de Minc, mas a de Marina Silva.
Chegou-se a temer que os desabafos repentinos do ministro pudessem estragar o balanço do PAC. Exagero. Como embaraçar uma cerimônia que anuncia como "concluída" uma rodovia entregue à iniciativa privada, ainda que nenhum quilômetro tenha sido asfaltado? Dilma Rousseff nem piscou, claro, ladeada de reverentes companheiros da Esplanada, numa espécie de Santa Ceia do primeiro escalão.
Diminuído, Minc recuou. Disse que antes de tudo era um "homem do governo" e que havia opinado em nome de "amigos e eleitores".
Podia até ser. Mas o esperneio do ministro acabou jogando a crise no colo do Senado, só porque a "MP da Grilagem" lá tramitava naquele momento. Logo os senadores, que nem relaram no conteúdo do texto...
Se agora atender ao "apelo" do ministro e fizer algum ajuste no decreto, Lula sairá revigorado da confusão que armou. Se sancioná-lo sem vetos, a culpa será do agronegócio, do DEM, do Congresso... Marina defendia o ambiente com mais vigor, mas Minc lava mais verde.

coluna de 12.jun.2009

melchiades.filho@grupofolha.com.br

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Corpo estranho

À medida que o nome da "mãe do PAC" ganha corpo nas pesquisas, Lula e o PT deixam de se preocupar apenas com a campanha e os cenários eleitorais para discutir também o loteamento de espaços num governo Dilma Rousseff.
Isso é colocar o carro à frente dos bois, dirá o leitor, já que a ministra ainda não tem nem a metade das intenções de voto do principal adversário. Para os interessados, porém, são medidas de precaução, naturais diante da artificialidade com que a candidatura foi concebida.
Em boa medida, Dilma entrou e cresceu no governo federal por acaso. Assumiu a pasta de Minas e Energia só porque, na última hora, ruiu um acordo com o PMDB. Foi para a Casa Civil só porque José Dirceu não resistiu ao mensalão.
Ela não teve de passar pelo crivo dos políticos ou da sociedade civil. Jamais disputou eleição. Nunca se interessou pelas atividades internas do PT (possivelmente estaria até hoje no PDT, se os brizolistas não tivessem rompido com o governo gaúcho do petista Olívio Dutra, no qual era secretária). O tempo todo foi Lula quem a bancou.
Por isso, dentro da enorme e heterogênea aliança que a defende para a Presidência, poucos sabem de fato quem ela é, o que pensa e, sobretudo, como reagiria no poder.
Daí a preocupação de garantir um "fio-terra" lulista para o caso de vitória. Nos últimos dias, aumentaram os sinais de que Dilma será cercada de pessoas do círculo de confiança de Lula e do PT. O chefe de gabinete Gilberto Carvalho, por muito tempo cotado para presidir o partido, e o ex-ministro Antonio Palocci, que ensaiou se candidatar ao governo de São Paulo, permaneceriam no Planalto em 2010 a fim de assegurar posições em 2011.
O PT, também, opera uma inédita pacificação das correntes internas. Unidas, elas teriam mais condições de negociar cargos, verbas e projetos com a eventual presidente.
O senão é que Dilma, animada, também já quer escolher os seus.

coluna de 05.jun.2009

melchiades.filho@grupofolha.com.br

terça-feira, 2 de junho de 2009

Serra, serra, serrador

José Serra manteve a liderança isolada nas intenções de voto para a Presidência e viu melhorar a avaliação de sua administração em São Paulo. Mesmo assim, a mais recente pesquisa Datafolha não chega a ser boa para o tucano.
Primeiro, a crise econômica (falta de crédito, alta do desemprego, inadimplência crescente) não arranhou a imagem do governo federal.A popularidade de Lula voltou ao patamar recorde (69%). Portanto, se o país sofrer outro abalo daqui até 2010, nada garante que a oposição conseguirá capitalizá-lo.
Segundo, a candidata de Lula confirmou o potencial. A desvantagem de Dilma Rousseff caiu de 30 para 22 pontos (38% x 16%). Deve cair mais. Um terço dos entrevistados ainda não sabe quem é ela. A campanha escancarada, com forró em Caruaru etc., cuidará disso.
Terceiro, o Datafolha fragilizou Aécio Neves _ele aparece atrás de Ciro Gomes (PSB) e de Dilma e empatado com Heloísa Helena (PSOL). Interessava aos serristas turbinar o governador mineiro e convencê-lo a compor uma chapa puro sangue, e não o ver sair apequenado e focado em seu Estado.
Os tucanos otimistas dirão que Serra está ainda recolhido, e que por isso seus números são ótimos e o futuro a ele pertence. Mas o que o governador terá a oferecer quando sair do recolhimento? Provavelmente menos do que o Planalto.
A expectativa de poder não basta mais para atrair apoios. Os PMDBs já deixaram claro que pretendem ficar com o candidato do governo (sugando a máquina enquanto puderem), certos de que serão chamados para assegurar a "governabilidade" não importa o vencedor.
Por fim, o Datafolha complicou até a "saída por cima". Será difícil para Serra renunciar à corrida nacional alegando necessidade de garantir São Paulo para o PSDB. A pesquisa revelou um PT débil no Estado e, mais, que Geraldo Alckmin faria o mesmo serviço (no primeiro turno) para os tucanos.

coluna de 02.jun.2009

melchiades.filho@grupofolha.com.br

sábado, 30 de maio de 2009

Em defesa das CPIs

O bombardeio que procura desqualificar as CPIs está a serviço de um governo que desdenha do Legislativo e, entre outros vícios, peca pela soberba _confia que será situação para sempre.
As CPIs são um importante fórum de debate, talvez o único de que hoje dispõem o Congresso e a oposição para se contrapor ao arsenal propagandístico do Executivo.
Fossem as comissões tão inúteis, despropositadas ou mero palanque para políticos decadentes _versões que aquela mesma máquina de propaganda difunde_, não seriam feitas tantas reuniões de emergência com o intuito de barrá-las nem manobras tão acintosas para garantir integrantes de confiança. Elas murchariam sozinhas, não?
Erra, também, quem afirma que as CPIs sempre acabam em pizza. Mesmo as mais contestadas ou folclóricas têm dado contribuições.
Instalada por causa da crise nervosa de Ronaldo Fenômeno na Copa de 1998 (!!!), a CPI da Nike acuou os cartolas a tal ponto que galvanizou o fim do passe, a criação de um estatuto de direitos do torcedor e a adoção de uma fórmula justa (e permanente) para o principal campeonato nacional. Incipiente? Só para quem não vive o futebol.
Sem a CPI do Apagão, a Anac estaria ainda mais à mercê do duopólio aéreo. O recente e tão aplaudido "rapa" de apaniguados políticos na Infraero não teria sido possível.
A CPI dos Grampos? Revelou o mercado paralelo de escutas, expôs a falta de rigor técnico e de controle institucional de trabalhos da PF e colocou o Judiciário na berlinda.
Quanto à Petrobras, a CPI prestará um enorme favor, inclusive ao governo federal, caso jogue luz sobre os grandes contratos e o modelo de negócios do petróleo _o Planalto está entre os que se queixam da falta de transparência da estatal.
E, ainda que sucumba ao sabido despreparo (ou à inapetência) dos senadores, a comissão já diminuiu a chance de uso eleitoral da empresa no ano que vem. Não é pouco.

coluna de 29.mai.2009

melchiades.filho@grupofolha.com.br

terça-feira, 26 de maio de 2009

Separação de corpos

A Câmara deu um passo relevante ao aprovar o projeto de emenda constitucional que facilita o divórcio, e não apenas pelo interesse que o assunto desperta ou pelo avanço que o texto representa. Depois de muito tempo, o plenário votou algo que nasceu e foi burilado dentro do Congresso, sem a intervenção direta do Planalto.
Desde 2001, as medidas provisórias enviadas pela Presidência dominam a pauta, quando não bloqueiam totalmente os trabalhos do Legislativo. No Senado, elas trancaram 70% das sessões deliberativas no segundo mandato de Lula.
Quando o Congresso esboçava alguma agenda própria, ela logo sucumbia à ditadura das MPs e acabava na gaveta. A Câmara tem hoje 2.000 projetos prontos para votar.
Aos plenários restou chancelar as vontades do governo ou entreter as câmeras de TV. Comissões temáticas perderam sentido. Audiências públicas passaram a ser realizadas só para reunir velhos conhecidos.
A situação chegou a tal ponto que, em dezembro, o presidente da Câmara se espantou ao notar que uma comissão apreciaria um projeto que ele mesmo havia redigido dez anos antes _e do qual nem ele se lembrava.
(Não à toa, as duas Casas se tornaram descartáveis até para lobistas, mais atentos à Casa Civil, de onde são disparadas as MPs.)
Em março, porém, achou-se uma saída jurídica: somente a pauta das sessões ordinárias seguirá trancada pelos decretos presidenciais.
Não seria prudente depositar demasiada esperança no sprint "autoral" de um Congresso cujos líderes fizeram carreira política em submissão ao Planalto _para não falar na ausência de resposta digna do nome aos escândalos recentes.
Eles próprios hesitam em fazer uso do novo entendimento, apesar dos sinais de endosso do Judiciário.A reforma política, por exemplo, prossegue no vai não vai.
Mas o sucesso da PEC do divórcio de certo modo levantou o teto do Legislativo, e isso é um avanço.

coluna de 26.mai.2008

melchiades.filho@grupofolha.com.br

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Efeito colateral

Enfrentar o câncer com determinação e naturalidade pode servir de inspiração a muita gente. Mas o Planalto comete um erro quando, também para aquietar aliados e adversários, martela que a workaholic Dilma Rousseff irá manter intacta a pesada agenda de trabalho durante o tratamento.
Melhor seria deixar em aberto a possibilidade de a ministra se afastar eventual ou mesmo temporariamente da Casa Civil e da campanha para encarar a quimioterapia.
A insistência no mito da mulher-de-ferro tem um efeito colateral: qualquer mudança no visual de Dilma, alteração de última hora em sua programação ou mal-estar devido aos remédios causa uma comoção maior do que a razoável e precipita rumores de que a candidatura está comprometida.
Reservadamente, até governistas que fazem o discurso do otimismo já se agitam em torno do "Plano B".
Sabem que Dilma terá de enfrentar mais dois meses de sessões _mais dois meses de indisposições, de ausência nos palanques e de especulações em torno de sua saúde.
E sabem que, dado o estilo de comunicação adotado até aqui, será mais difícil convencer eleitores e principalmente políticos da viabilidade da candidatura quando a ministra encerrar o tratamento. Os marqueteiros terão de lidar com a desconfiança de que estão escondendo algo. Ou subestimando as chances de uma recidiva do câncer.
Por enquanto, Lula não só matou no peito a inquietação dos aliados como manifestou disposição de dobrar a aposta. "Quanto [ela] mais trabalhar, melhor", disse ontem.
A bem da verdade, seria estúpido autorizar uma operação de desembarque neste momento. Não há um "B" para o "Plano B". E o "Plano A" não parou de subir nas pesquisas.
Em meio a tantas dúvidas, resta só uma certeza: a candidatura de Dilma foi invenção de Lula; sua eventual substituição será outra.

coluna de 22.mai.2009

melchiades.filho@grupofolha.com.br

terça-feira, 19 de maio de 2009

O drible do elástico

O potencial de estrago de uma CPI da Petrobras não depende fundamentalmente dos esforços da oposição nem das suspeitas que pairam sobre a empresa, mas, sim, da decisão do Planalto de continuar ou não a testar a paciência do PMDB, motivo de luta fratricida na base governista no Senado.
Depois de ter acomodado todas as lideranças peemedebistas na máquina federal, Lula sentiu-se à vontade para dispor do aliado como há tempos dispõe de seu próprio partido: sem pedir licença.
Veio de Lula o sinal verde para a candidatura dos petistas Tião Viana à presidência do Senado e Ideli Salvatti à Comissão de Infraestrutura.O Planalto julgava que Renan Calheiros estava morto _ou que não reagiria, agradecido pela operação que lhe salvou o mandato.
Lula não fez restrição, muito pelo contrário, quando o funcionalismo ligado ao PT respondeu à demonstração de força de Renan (o triunfo de José Sarney e Fernando Collor nas votações acima citadas) com denúncias de mau uso das verbas de apoio ao trabalho parlamentar.
O rapa de comissionados na Infraero, que vitimou parentes e amigos de senadores do PMDB, recebeu o endosso prévio do Planalto.
Assim como têm a bênção de Lula as manobras em curso nos Estados para ampliar a presença petista no Senado na próxima legislatura (a linha de frente de defesa de Dilma ou de combate a Serra). Mesmo que à custa de peemedebistas: Fernando Pimentel ou Patrus Ananias para a vaga de Minas hoje com Wellington Salgado; Benedita da Silva ou Lindberg Farias para a cadeira do Rio hoje com Paulo Duque etc.
O presidente sabe que, caso não eleja o sucessor, restará o PT para fazer a defesa irrestrita de seus oito anos de governo _e atazanar a vida do vitorioso. Por isso, aliás, não descarta escalar seu assessor mais próximo para o comando da legenda.Por isso, em resumo, põe à prova a elasticidade do PMDB. A CPI dirá se o elástico estourou.

coluna de 19.mai.2009

melchiades.filho@grupofolha.com.br

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Areia movediça

Veteranos de Brasília baixam a bola. Dizem que a captação "por fora" de doações envolve tanta gente que não restará ninguém para fazer barulho. Lembram o escândalo dos Anões do Orçamento, de 1993, abafado assim que as denúncias ganharam força suficiente para comprometer quase 200 políticos. Pode ser. Mas, ainda que não apareçam provas novas e mais contundentes, o caso Castelo de Areia desenha efeitos importantes sobre as próximas eleições.
1) Procuradores, policiais, jornalistas etc. passarão um pente-fino nos negócios da Camargo Corrêa. A descoberta de superfaturamento na refinaria de Pernambuco foi só um aperitivo. O Rodoanel de São Paulo, o Centro Administrativo de Minas Gerais e a hidrelétrica de Jirau entraram na linha de tiro. Serra, Aécio e Dilma, os pré-candidatos responsáveis por esses contratos, também. A "mãe do PAC", além disso, perderá se o país começar a desconfiar, em geral, dos grandes projetos de infraestrutura.
2) Em tese, os Tribunais de Contas, a boca do caixa dos bancos estatais e os órgãos públicos que tocam contratos de construção civil estarão menos à vontade para operar politicamente em 2010. A ameaça de uma CPI do Dnit, sobre obras viárias, não é mera coincidência.
3) A Justiça deverá exigir mais transparência das doações oficiais (coibindo as contribuições "genéricas" aos partidos) e rigor na prestação de contas dos candidatos.
4) O Congresso terá estímulo para votar a ideia de financiamento público das campanhas, combinado ou não com um teto para as contribuições de pessoas físicas e jurídicas, e a regulamentação do lobby.
5) Quem não estava alavancado para 2010 terá dificuldade de dar a partida agora. A operação da PF tende a inibir o fluxo de doações, no caixa 1 e no caixa 2. Com isso, as máquinas de governo farão como nunca a diferença. Um candidato à Collor, que surja do nada e dispare, ficou ainda mais improvável.

coluna de 13.abr.2009

melchiades.filho@grupofolha.com.br

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Lula lá, cá e acolá

O PT não tinha muita opção. Mas, ao aceitar tão mansamente que Lula escolhesse o candidato à Presidência _e como a aplicada Dilma aos poucos justifica a inventividade do presidente_, o partido perde a condição de se contrapor ao Planalto na definição de outros palanques importantes para 2010.
Lula é quem resolverá o conflito de interesses entre petistas e os governadores Cid Gomes (PSB-CE), Sérgio Cabral (PMDB-RJ) e Eduardo Campos (PSB-PE), aliados em busca da reeleição. Os correligionários Luizianne Lins, prefeita de Fortaleza, Lindberg Farias, prefeito de Nova Iguaçu, e João Paulo, ex de Recife, deverão se conformar com a disputa pelo Senado.
Caberá ao presidente, também, sanar as rivalidades e decretar quais caciques estarão na cédula em Estados como RS, PR, MS e MT.
Mais importante, Lula cuidará pessoalmente da montagem da chapa petista em São Paulo, base do provável adversário de Dilma.
Antonio Palocci, por ora, é o favorito. Não só porque mantém a estima do presidente, mas também porque agrada a várias alas do PT.
O ex-ministro, porém, depende da boa vontade da Justiça. Precisa ser inocentado do escândalo da quebra de sigilo bancário do caseiro _e logo. Além disso, não se sabe se toparia uma parada que o partido considera quase perdida para José Serra (o próprio ou o candidato dele).
Uma chancezinha, aqui, de o PT retomar as rédeas? Improvável.
Se Lula quiser um palanque sólido para Dilma, poderá escalar Marta Suplicy e perseguir votos com a "dobradinha" de mulheres de fibra.
Se concluir que, em São Paulo, 2010 servirá apenas de trampolim para 2012 na capital, por que não indicar ele próprio o "nome novo" para o salto? (Como, aliás, fez com Marta, derrotada em 1998 e vitoriosa em 2000.)
O PT de raiz torce _e como torce_ para que Lula, depois de ter imposto uma novata para a eleição nacional, não venha exigir o ministro-galã Fernando Haddad (Educação) em São Paulo.

coluna de 26.fev.2009

melchiades.filho@grupofolha.com.br

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Senso de oportunidade

No momento em que a crise econômica torna-se tangível, e mais cruel do que se previa, o país assiste a uma curiosa inversão de papéis. A oposição se cala, e o governo, que em tese poderia ser fustigado pelo acúmulo de más notícias, faz cobranças em público e se esforça para mostrar indignação.
Assim, é Lula quem torpedeia a política monetária que estrangula o crédito _como se os juros estivessem altos à revelia dele. A ministra-candidata Dilma Rousseff foi escalada para dar visibilidade a um evento da Força Sindical que só faltou malhar um boneco do presidente do Banco Central. O tucano Arthur Virgílio, no Senado, saiu em defesa de Henrique Meirelles.
É Lula, também, quem toma o microfone para protestar contra as demissões na Vale e na Embraer, empresas nunca antes neste país tão irrigadas por financiamento público. O dinheiro do Fundo de Amparo ao Trabalhador, repassado pelo BNDES, acaba pagando as despesas com corte de pessoal. O PSDB? Soltou uma nota para reclamar apoio à iniciativa privada.
Nem o discurso da campanha alckmista de 2006 mobiliza a oposição. A voz mais insistente em favor do controle dos gastos correntes do governo federal (que não param de crescer) é a de Aloizio Mercadante, o novo líder do partido do presidente no Senado. Bizarro.
A retração econômica muda o cenário político. Dificilmente a onda continuísta de 2008 se repetirá no ano que vem. Os governadores terão menos verbas para investir _e, potencialmente, portanto, menos obras para inaugurar. Em vários Estados (Rio Grande do Sul, Paraná, Pará, Alagoas), já dá para antever a troca de guarda em 2010.
Também o Planalto terá de lidar com recursos mais escassos. Estima-se que, só no mês passado, a Receita deixou de recolher R$ 1 bilhão (o orçamento de uma cidade como Ribeirão Preto) devido à crise.
A oposição, que tanto sonhou com a janela de oportunidade, curiosamente se recolheu. Lula não.

coluna de 24.fev.2009

melchiades.filho@grupofolha.com.br