terça-feira, 16 de junho de 2009

Vanguardas e atrasos

Talvez seja cedo para decretar a débâcle de José Sarney ou sentenciar que o ex-presidente da República cometeu um erro ao reassumir a direção do Senado.
É verdade que a Casa vive momento de total descrédito, colhida por uma avalanche sem precedentes de denúncias _de nomeações secretas a servidores fantasmas, de mansões ocultas a aviões fretados.
É igualmente verdade que Sarney está afundado até o pescoço nos escândalos. A cada semana, precisa repetir um "eu não sabia". Já teve de pedir desculpas, divulgar seu contracheque e devolver dinheiro.
Mas é verdade, também, que, graças à vitória de Sarney em fevereiro, o chamado "PMDB do Senado" voltou a capturar a atenção de Lula. O Planalto, que costuma desdenhar do Legislativo, não poderá ignorar o grupo que terá o controle da CPI da Petrobras, ameaça potencial à candidatura de Dilma Rousseff.
Assim como é verdade que, da privilegiada posição no Congresso, o ex-presidente pôde zelar por sua rede de influências no setor de energia. Uma lei foi aprovada para permitir à Eletrobrás fazer compras a toque de caixa. O sarneyzista Edison Lobão é o ministro envolvido na regulação do pré-sal.
É verdade, ainda, que a PF ficou mais "republicana" e diminuiu a publicidade dos inquéritos que investigam obras nos Estados em que o clã Sarney atua (Operação Navalha) e transações financeiras de empresas da família (Boi Barrica).
Por fim, é verdade que, desde fevereiro, o TSE julgou três governadores e beneficiou o PMDB nos três casos. Derrotada nas urnas, Roseana Sarney levou o Maranhão no tapetão.
Como se vê, Sarney segue ocupado com o exercício do poder. É isso que o move, não os aplausos _nunca os recebeu, nem pela transição para a Nova República. Será uma surpresa se ele entregar os pontos porque a "biografia foi manchada" pelos vícios do Senado. É mais provável que a apoplexia dos últimos dias seja o preparo do contra-ataque.

coluna de 16.jun.2009

melchiades.filho@grupofolha.com.br

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