quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Lula lá e cá

Arrisca-se a quebrar a cara quem projeta efeitos das eleições municipais sobre a sucessão presidencial. A votação nas cidades geralmente diz mais respeito ao ciclo eleitoral anterior do que ao seguinte _a ajuda ou a bênção de governadores e/ou congressistas pesa bem mais do que a perspectiva de um novo ocupante no Planalto. Mas é difícil não cair na tentação.
Primeiro porque os nomes mais fortes da oposição à Presidência têm problemas neste ano em suas capitais. Aécio Neves ainda não achou candidato em Belo Horizonte; José Serra precisa eliminar um de dois em São Paulo (de preferência o favorito, Geraldo Alckmin).
Segundo devido ao ineditismo da eleição de daqui a dois anos: a primeira do lulismo sem Lula. Os partidos da base vão colher nas urnas em 2008 a munição para interferir nas negociações da(s) chapa(s) _ou do espólio_ da aliança em 2010.
E terceiro porque, ao contrário do que dizem e do que ele gostaria, o presidente não poderá se ausentar totalmente da campanha neste ano _ou, ao menos, da pré-campanha.
Há a já comentada situação em São Paulo, em que só um chamado de Lula convencerá a ministra Marta Suplicy a impedir a varrição do petismo "de luta e de massas".
O cenário é similar ao de BH, ainda que lá o PT esteja no poder. Por mais camaradas que façam questão de parecer, Aécio e Lula têm projetos políticos distintos. Por que este permitirá àquele redefinir sozinho as fronteiras da política de boa vizinhança em Minas? Patrus Ananias, como Marta, não quer, mas poderá acabar convocado também.
Há cidades, como o Rio, em que o dedo do presidente ajudará a desembaçar o pára-brisa.
E há, por fim, questões do PT em jogo. A direção em Pernambuco, por exemplo, se opõe ao prefeito João Paulo, que evidentemente deseja fazer o sucessor em Recife. Quem no partido tem bala para arbitrar pinimbas como essa? Ricardo Berzoini certamente que não.

coluna de 02.jan.2008

mfilho@folhasp.com.br

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