sexta-feira, 28 de março de 2008

Fita demo

Quase 130 deputados, um quarto da Câmara, já trabalham suas candidaturas a prefeito. O Planalto aproveita a caravana do PAC para introduzir os nomes de Lula. O Judiciário se excita, vide as advertências do TSE sobre o uso abusivo da máquina federal.
Essa movimentação toda, porém, não significa que a eleição vá seguir a lógica da política nacional. À medida que 2008 avança, as circunstâncias paroquiais prevalecem.
São elas que forçam o PT a seguidamente adiar uma decisão "macro" sobre as alianças. Que diretriz poderia justificar ao mesmo tempo o namoro com Aécio Neves, Orestes Quércia e Marcelo Crivella?
São elas, também, que explicam a sutil mudança de perfil do Democratas, partido que, em poucas semanas de campanha, viu evaporar todo seu referencial brasiliense.
A parceria com o PSDB patina. Em Recife, de olho no Senado em 2010, os tucanos deixaram na mão o favorito Mendonça Filho e optaram por fazer um agrado ao PMDB, apoiando o azarão Raul Henry. Em São Paulo, lançaram Geraldo Alckmin, em vez de fortalecer Gilberto Kassab à reeleição. No Rio, preferiram Fernando Gabeira a Solange Amaral, cria do prefeito Cesar Maia. Em Salvador, tomaram a bênção do PT e enfrentarão ACM Neto.
A imagem de genuíno partido de oposição a Lula pode ter garantido aos "demos" espaço no "Jornal Nacional", mas será de pouca valia no corpo-a-corpo deste ano.
As demandas do eleitor municipal são tangíveis e locais. Não dá camisa a ninguém polemizar sobre medidas provisórias, reforma tributária ou CPI da Tapioca. Que dirá evocar durante a campanha um adversário popular como nunca.
Aos poucos, o DEM percebe que precisa modular as críticas, soar "construtivo", recolher seus quadros mais incendiários, acenar com novas alianças. A depender do desenho do segundo turno, não estranhe se Cesar Maia acabar no mesmo palanque de Lula.

coluna de 26.mar.2008

mfilho@folhasp.com.br

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