sábado, 9 de janeiro de 2010

Ciro e a magia de Oz

Ciro Gomes manteve a pré-candidatura à Presidência à revelia de Lula, que quer transplantá-lo para a eleição de São Paulo. Agora, se ficar na campanha nacional, será justamente para atender o interesse do Planalto.
O nome mais conhecido do PSB desidrata a cada pesquisa. Em agosto, tinha mais de 20% no Datafolha, sempre à frente de Dilma Rousseff nos principais cenários. Agora, final de 2009, não alcança 15%. Foi ultrapassado pela petista.
Ainda que em declínio, porém, o desempenho do deputado cearense poderá ser útil ao governo. Tudo por causa de outra notícia do Datafolha. José Serra não caiu de 37%.
Dilma até aqui cresceu sem tirar votos de seu principal oponente.
O QG lulista prefere liquidar a eleição rápido, daí o esforço para escantear Ciro. Mas parece haver um risco, pequeno, porém real, caso o ex-ministro desista e Serra se segure na vizinhança dos 40%: o de vitória tucana no primeiro turno.
Os 10% de Ciro serviriam para garantir o segundo turno e dar a Dilma mais tempo para adquirir musculatura e encarar o plebiscito com o governador paulista.
Além disso, o cearense desempenharia um papel importante na propaganda na TV. O PT não quer que Dilma enlameie as mãos. Sabe que o brasileiro não gosta de quem ataca o adversário abaixo da linha da cintura. Além disso, conhece as limitações de sua candidata.
Dilma é o Homem-Lata da história do Mágico de Oz: uma candidata à procura de um coração. Se parecer feroz ao eleitor, o roteiro traçado pelos marqueteiros se desfaz.
Ciro, por sua vez, tem vocação e toda "legitimidade" para distribuir pancadas. Afinal, atormentar Serra é (quase só) o que tem feito.
Candidato postiço em São Paulo ou "laranja" da corrida nacional, curiosamente pode sobrar para Ciro, um político temperamental e acostumado a ditar os próprios rumos, o papel do cãozinho Totó de Dorothy, quer dizer, Lula.

coluna de 02.jan.2010

melchiades.filho@grupofolha.com.br

Nenhum comentário: