quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Periscópio

Submergir. À exceção de José Dirceu, que sofre de incontinência política, os petistas enrascados no primeiro mandato seguiram a regra com notável disciplina. Atuam com discrição, só no bastidor, longe das câmeras, à espera de que julguem ou esqueçam seus pecados _ou flagrem outro pecador.
Nem a sessão de hoje no STF conseguiu trazê-los à superfície. Presentes ou não na denúncia do procurador-geral, todos foram reconvocados a falar, a se explicar, a dar uma palhinha que fosse. Todos declinaram. Continuam “na muda”, como se diz na capital.
Delúbio Soares e Silvio Pereira, da linha de montagem do mensalão, agora tocam os seus negócios sem alarde, recolhidos a seus redutos.
José Genoino trocou o “bom combate” na imprensa por reuniões internas e pelo trabalho na CCJ. Especialista em regimento, é, ao lado do peemedebista Eduardo Cunha, o sujeito oculto nessa que é a principal comissão da Câmara.
João Paulo Cunha, outro da lista dos 40, cuida de organizar o bunker que manteve a hegemonia paulista dentro do PT (contra o desejo do Planalto) e articula sua candidatura ao diretório estadual.
Aloizio Mercadante, colhido na Operação Dossiê, mergulha em debates “temáticos” no Senado, roteiro que escolheu para voltar ao cenário das eleições majoritárias.
Também citado no caso Vedoin, Ricardo Berzoini faz corpo-a-corpo nos sindicatos, intercede para encaixar correligionários em escalões intermediários do governo e, reservadamente, opera sua reeleição à presidência do partido.
Enquanto aguarda a denúncia pela quebra de sigilo do caseiro, Antonio Palocci monitora na Câmara os projetos do Executivo na área econômica e, de quando em quando, dá conselhos a Lula.
No partido e/ou no Congresso, aos poucos todos recuperam a influência. Vale um documentário à Jacques Cousteau: os petistas submergem, os adversários se afogam.

coluna de 22.ago.2007

mfilho@folhasp.com.br

Nenhum comentário: