domingo, 9 de setembro de 2007

Polícia montada

Convencido de que a visibilidade ajudaria a melhorar a reputação e a infra-estrutura da corporação, mas ciente das ciumeiras internas, Paulo Lacerda teve a sensatez de permitir que muitos aproveitassem o embalo midiático.
Em vez de tratorar, deu corda aos grupelhos que se acotovelam dentro da Polícia Federal. Repassou mais responsabilidades aos superintendentes regionais e ampliou a autonomia e o orçamento da área de inteligência.
Deu certo. A competição entre delegados por notoriedade aos poucos virou corrida por resultados.
A polícia não chegou a justificar a imagem de hipereficiência trombeteada pelo governo. Não descobriu a "origem do dinheiro". Não explicou direito as conexões no caso Palocci x caseiro. Muitas vezes não produziu provas que segurassem na cadeia os alvos das operações espetaculosas.
Mas é inegável que sua produtividade e popularidade aumentaram. Lula citava a "PF republicana" sempre que o acusavam de leniência com corruptos e aloprados.
A descentralização operacional, porém, aos poucos gerou desgostos ao Planalto. Foi ela que permitiu a divulgação da foto do butim do dossiê. Ou que fossem pilhadas pessoas próximas ao presidente, como o churrasqueiro, o segurança, o marido da secretária e até o irmão. Ou que se produzisse uma operação superior, em custo, ao que fora desviado pelos amigos de Vavá.
Sem o grilo-falante de Márcio Thomaz Bastos, Lula acabou refugando. E o novo ministro da Justiça, Tarso Genro, alienado de tantas decisões, aproveitou a deixa.
Nesse sentido, a degola de Lacerda vai além da anunciada intenção de evitar vazamentos ou a humilhação de presos em flagrante.
Sem a publicação de escutas, sem as intrigas nos jornais, sem a companhia de César Tralli, a PF retorna aos subterrâneos.
Assume o risco, devidamente calculado pelo governo, de virar outra Abin, um serviço secreto a serviço dos segredos.

coluna de 08.set.2007

mfilho@folhasp.com.br

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