segunda-feira, 3 de setembro de 2007

PT e saudações

O PT sempre lidou com a realidade de modo dualista e terminante. Sua história pode ser representada por uma seqüência de discursos "nós x eles": esclarecidos x alienados, éticos x corruptos e, agora, pobres x ricos.
Nada melhor, para um partido com essa vocação, do que o cenário político atual, demarcado entre lulistas (ou adesistas e mensaleiros) e oposicionistas (ou golpistas e cansados), sem meio-termo, certo?
Errado. Se as coisas se simplificaram no campo dos signos, no que diz respeito à atuação palaciana elas ficaram bem mais complexas.
Queiram ou não os petistas, Lula abraçou a coalizão. O partido, cuja direção se confundiu com o núcleo-duro do governo no primeiro mandato, hoje é só um dos dois pilares da base _o outro sendo o PMDB.
Ainda que heterogênea, a aliança está longe de registrar fissuras. Enquanto o presidente for popular, dificilmente alguém pula do barco. As eleições municipais de 2008 tendem a causar no máximo arranhões.
Para piorar, interlocutores de outros partidos é que negociam hoje em nome do Planalto. Walfrido dos Mares Guia, ministro da articulação, e José Múcio, líder de Lula na Câmara, são do PTB; Roseana Sarney, líder no Senado, do PMDB.
A abordagem adotada pelo PT no primeiro mandato não dá mais pé. Se já é raro Lula chancelar o que pleiteia a bancada como um todo, que dirá o que for encaminhado separadamente pelas distintas alas.
A nova situação, em suma, exige do partido uma coesão inédita.
Em razão disso, antes mesmo da publicação na Folha das indiscrições do ministro Lewandowski, já estava tudo engatilhado para que o congresso do PT adiasse o aguardado tira-teima entre as correntes.
O discurso único de negar o mensalão não é útil apenas para atiçar a militância, proteger Lula ou enfrentar o espelho. Ao reafirmar o "nós x eles" velho de guerra, ele serve também, circunstancialmente, aos projetos varejistas de todos no partido.

coluna de 01.set.2007

mfilho@folhasp.com.br

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