quarta-feira, 3 de março de 2010

Registro sindical

Afirmar que Lula anestesiou o sindicalismo no país talvez seja precipitado. Mas no PT certamente isso aconteceu. É notável que as questões do emprego tenham ficado em segundo plano, quando não de fora, do discurso de Dilma Rousseff e do documento final do congresso do partido.
A palavra sindicato (ou suas variantes) não aparece entre as quase 7.500 do texto que apresenta as diretrizes do PT para o próximo quadriênio. No relatório do congresso de 2007, havia 50 menções.
A agenda trabalhista do PT pós-Lula resume-se ao "compromisso com a defesa da jornada de 40 horas semanais, sem redução de salários".
Proposta, sabe-se, que não recebe o endosso do presidente, de sua candidata e da cúpula partidária. Foi incluída "só para constar".
(Como também é insincera a defesa da diminuição da jornada de trabalho que governistas têm feito no Congresso, manobra que visa tirar o foco dos projetos de lei que atrelam a remuneração das aposentadorias ao salário mínimo.)
Lula domesticou as centrais, e sobretudo a petista CUT, com a distribuição de dinheiro público. Desfalcou-as, nomeando seus líderes para cargos no governo. E tirou-lhes as principais bandeiras (garantiu ganhos reais para o mínimo, valorizou o funcionalismo, engavetou a reforma trabalhista etc.).
Daí que no partido só vozes isoladas hoje puxem o samba trabalhista _como Paulo Paim (RS), que do Senado berra reivindicações no passado vindas dos sindicatos.
Até esses espasmos, porém, têm prazo de validade. A geração sindicalista de Paim _e de Lula, Olívio Dutra, Luís Gushiken, Luiz Dulci, Jacó Bittar etc._ aos poucos deixa a cena. Mesmo nas regiões industriais que os petistas controlam politicamente, como o Vale dos Sinos (RS), não têm surgido substitutos à altura. O PT do futuro parece pertencer à burocracia formada dentro do governo e fundos de pensão.

coluna de 27.fev.2010


melchiades.filho@grupofolha.com.br

Nenhum comentário: