sexta-feira, 11 de junho de 2010

'Muleques' e 'panicats'

A TV trouxe a primeira novidade desta campanha presidencial. Os candidatos não são mais apenas alvo dos programas de humor. Tornaram-se também atores. Aceitam de bom grado participar dos quadros concebidos para ridicularizá-los.
De um lado, Dilma Rousseff desdenha da própria aparência e promete dançar o "rebolation" se eleita. Do outro, José Serra saltita e cantarola o hit "Ah, Muleque" e faz escada para críticas de detratores.
Deve ser mesmo difícil resistir à simpatia e ao talento de Sabrina Sato, a principal "isca" do "Pânico na TV" para desarmar os políticos. Ou dos demais humoristas e dançarinas (as "panicats") do programa _eles muito bons, elas muito boas.
Mas há cálculo por trás do constrangimento. Dilma e Serra viraram habitués dos esquetes porque lhes interessa desfazer ou no mínimo atenuar a fama de mal-humorados.
Em tese, uma dose de irreverência pode ser útil na política, sobretudo num momento com tantos eleitores indiferentes. Pode contribuir para tornar mais popular a agenda pública, por exemplo.
Além disso, talvez seja saudável o candidato rir um pouco de si. O escracho diminui o "salto alto" e serve de contraponto às aflições e paranoias da disputa eleitoral.
Mas existe algo estranho nessa nova fase do humor nacional, sem prejuízo de seu sucesso.
Primeiro porque, no fundo, ele não incomoda. Piadas sobre plásticas ou olheiras não chegam a embaraçar Dilma e Serra como fariam determinadas perguntas sobre Previdência, SUS, mudanças do currículo escolar, uso do dinheiro dos impostos e outras urgências das quais os dois têm evitado tratar.
Segundo porque há o risco de os candidatos, como calouros nos trotes universitários, ficarem reféns do esculacho. O risco de perder o bom senso para não perder a piada.
Se das urnas sair a primeira mulher presidente, fará sentido ela festejar a vitória requebrando?

coluna de 11.jun.2010


melchiades.filho@grupofolha.com.br

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