sexta-feira, 9 de julho de 2010

Jogo feio

Como diz o trocadilho que li na internet, o Brasil perdeu a chance de faturar a Copa de 2010, não a de superfaturar a de 2014.
Até agora, o país não sabe quanto vai gastar para organizar o próximo Mundial -nem em quê. O governo federal fala em R$ 22 bilhões, mas é chute, à espera dos aditivos para "contratempos imprevistos".
Isso porque os projetos de infraestrutura e transporte ainda não estão detalhados. Os de segurança nem sequer foram esboçados.
E há o gargalo dos estádios. A Fifa não bateu martelo sobre quais serão erguidos ou reformados, mas os custos não param de subir. Quase triplicaram desde o primeiro orçamento (de R$ 2 bi para R$ 5,3 bi).
Tanta indecisão parece proposital. Serve para os envolvidos arrancarem mais dinheiro estatal, não? No mínimo, impede o poder público de fechar as planilhas e fixar o cronograma de desembolsos.
Além disso, se as coisas tardam a acontecer, os órgãos de fiscalização tardam a se mexer. Os sites dos tribunais de contas sobre a Copa, por exemplo, continuam zerados.
É má-fé, e não só ingenuidade, esperar que a iniciativa privada cuide de filtrar os vícios do processo.
Como revelou importante série de reportagens da Folha neste ano, as grandes construtoras brasileiras têm o hábito de fazer acordos antes das licitações _superfaturam os contratos e repartem a execução das obras e o dinheiro recebido.
Segundo a Polícia Federal, foram fraudados o metrô em várias capitais, rodovias, portos e aeroportos, refinarias etc... a lista só não cresceu porque o inquérito foi convenientemente congelado pelo STJ.
O Planalto chegou a formar uma comissão de burocratas para coibir a atuação desses "consórcios paralelos" de empreiteiras e assegurar a lisura das concorrências da Copa _e da Olimpíada do Rio-2016.
Mas é difícil acreditar no comprometimento contra a corrupção de um governo que por ora não fez senão atender e bajular os cartolas.

coluna de 06.jul.2010


melchiades.filho@grupofolha.com.br

Nenhum comentário: