sábado, 24 de novembro de 2007

Teoria da gravidade

Não faltaram justificativas para o ritmo tedioso com que evoluíram as novelas CPMF e Renan Calheiros. Algumas delas: 1) contemplar os pleitos da base aliada, ou mesmo tomar nota deles, demanda tempo; 2) não se arranja voto entre os adversários da noite para o dia; 3) a oposição aposta que, arrastando as coisas, o PT se desgastará com os parceiros de coalizão; 4) prolongar a negociação é um jeito de arrancar contrapartidas do governo; 5) temas polêmicos rendem aparições nos telejornais.
Uma a uma, porém, essas explicações perderam fôlego ou sentido ao longo desses seis meses de agonia.
O toma-lá-dá-cá avançou, o mapa das dissidências praticamente fechou, os partidos já se (des)entenderam, o Planalto soltou o pacote de "bondades", a TV cansou dos comentários.
Ainda assim, tudo continua engasgado. Os oposicionistas não param de inventar manobras protelatórias. E os governistas reagem com menos apetite do que se podia prever. Já tem gente falando em desfechos só no ano que vem!
O embaço é tanto que provoca desconfiança: talvez seja útil a ambos os lados manter o suspense.
O imposto do cheque e a sucessão no Senado, afinal, têm funcionado como uma espécie de buraco negro do debate político. Da corrida por 2010 ao tombo de Walfrido, Azeredo & Sócios, tudo acaba tragado.
Como ficou claro na convenção do PSDB encerrada ontem, a oposição parece não ter nada melhor para sugerir à pauta. CPMF e Renan são, assim, um passatempo proveitoso.
Para o governo, mais que isso. Um noticiário focado nesses dois temas (importantes, mas chatos) é um noticiário menos focado nos aumentos da comida, do cimento e do gás, no recorde da remessas de divisas, no atraso das usinas do Madeira, na interrupção da queda de juros, na volta do desmatamento da Amazônia, na explosão da dengue, na crise aérea que não termina, no fato de que o primeiro ano de Lula 2 não aproveitou o embalo oferecido pelas urnas em 2006.

coluna de 24.nov.2007

mfilho@folhasp.com.br

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