sábado, 5 de julho de 2008

Feitiço mineiro

Já existe faz tempo em Minas Gerais o consenso político que Aécio Neves e Fernando Pimentel tentam vender como novidade. Lamentavelmente, na forma de uma máquina suprapartidária de fraudes com dinheiro público.
Das 119 prefeituras investigadas no caso João de Barro, 114 são do Estado. Assim como os cinco deputados federais suspeitos de irrigar o esquema de superfaturamento.
As irregularidades começaram a ser apuradas depois que um relatório do TCU rejeitou as contas de 23 municípios no interior de Minas.
Várias cidades mineiras aparecem com destaque, também, nos três relatórios mais recentes da CGU sobre desvios em licitações.
Algumas delas foram o principal alvo da outra "maior operação do ano" da PF: a Pasárgada. Só dois dos 17 prefeitos detidos por suspeita de sumiço de recursos são de outros Estados.
Na casa de Carlos Alberto Bejani (Juiz de Fora), os policiais acharam R$ 1 milhão e gravações em que ele admite negociar propinas. Soube-se depois que o prefeito foi o beneficiário de R$ 750 mil dos R$ 4 milhões que Roberto Jefferson recebeu do caixa dois do PT para financiar candidatos do PTB em 2004.
A consultoria que, descobriu-se, corrompia tribunais de contas? Mineira. O braço da máfia dos sanguessugas ajuizado nesta semana pelo Ministério Público? Mineiro. Alguém aí falou em valerioduto?
Além da assiduidade no noticiário, dois detalhes chamam a atenção para Minas: 1) Em todas ilegalidades, há um condomínio de partidos (PSDB, PMDB, PT, PTB, PDT, PR, PHS...), nunca uma sigla isolada; 2) Não importa o escândalo, todos optam pelo silêncio conivente.
O entendimento é bom; a unanimidade, perigosa _ela anestesia o debate, a pressão, a fiscalização.
A Executiva Nacional do PT pode ter agido por outros motivos. Mas, ao impor limites ao acordão em Belo Horizonte e garantir um mínimo de fricção na política local, acabou fazendo um favor aos mineiros.

coluna de 05.jul.2008

mfilho@folhasp.com.br

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