sábado, 20 de outubro de 2007

A delicadeza do suflê

A imposição de regras duras para coibir o troca-troca colocou o Partido da República na berlinda. O deputado federal Luciano Castro não sai dos telejornais, transformado em garoto-propaganda da infidelidade. Apanha em nome de todos. "Bem feito", alguém dirá. Quem manda liderar o partido que mais atraiu políticos vira-casacas no segundo mandato?
Não que a sova seja imerecida. Os quadros do PR não se destacam pela vocação programática. Zanzam em torno do que se convencionou chamar de "balcão" no Congresso.
Mas os clichês do toma-lá-dá-cá federal nem de longe explicam o sucesso galopante da agremiação.
Basta notar que seus parlamentares não encabeçam o ranking das emendas liberadas pelo Executivo. Ou que o partido manteve só um ministério _o mesmo do governo Lula 1 (Transportes). Ou que seu lote de cargos não avançou além do segundo escalão do setor (DNIT).
Na verdade, o PR descolou-se dos assemelhados PTB, PRB e PP, tornando-se o principal refúgio dos adesistas, devido a uma avaliação mais realista do quadro partidário.
Percebeu que políticos de pouca expressão, ou de expressão circunscrita a redutos pequenos, andavam insatisfeitos com as regras e pedágios estabelecidos pelos caciques de suas siglas de origem.
Devastado pelos escândalos do mensalão e, sobretudo, dos sanguessugas, o ex-PL-fundido-ao-Prona ousou fazer a esses nanicos a oferta que outros partidos consideravam absurda: a possibilidade de controlar, com total autonomia (e o "amparo" do DNIT), as próprias alianças e bases de atuação.
De um modo torto e viciado, portanto, o partido-suflê não fez senão adiantar uma estratégia distrital _aquela que muita gente de bem recomenda para (re)aproximar os eleitores da política.
A onda repentina em favor da fidelidade partidária deve ser vista também como uma reação a essa perspectiva de descentralização.

coluna de 20.out.2007

mfilho@folhasp.com.br

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