domingo, 14 de outubro de 2007

O leopardo

O escândalo da Gautama ameaçou dois senadores, mas só um acabou arrastado, graças à já famosa tatuagem da borboleta. Pouco importa que o dono da empreiteira tenha catapultado a folha corrida de obras no Maranhão, com o apoio da família do outro.
O único ministro vitimado pela Operação Navalha foi um anônimo que construiu a trajetória na tecnocracia e ascendeu na política pelas mãos de José Sarney. Tão logo as acusações emergiram, Silas Rondeau entregou o posto. Quebrou a tradição lulista, que prevê meses de afagos antes da degola. O que convenientemente manteve os holofotes afastados do padrinho.
A petista Ideli Salvati subiu à tribuna e deu shows de contorcionismo em defesa de Renan Calheiros e da coalizão. Roseana Sarney nem na platéia foi vista. A líder do governo, de tão entocada, levou o apelido de Hello Kitty _a gatinha sem boca.
Foi o pai quem operou as defecções na oposição que ajudaram a absolver Renan no plenário _algumas depois convertidas em adesão a partidos da base. Quem pagou o pato foi Aloizio Mercadante, que tocou a flauta do PT no espetáculo.
Os "franciscanos", tidos como renanzistas, jogaram a toalha no momento em que notaram o sumiço de cena do ex-presidente e da filha.
Francisco Escórcio, acusado de espionar a mando de Renan, era assessor especial da presidência do Senado. Mas foi indicado para o cargo por Sarney _assim como, por indicação de Sarney, virou conselheiro de estatal do setor elétrico.
A CPMF era o alvo, e o Planalto negociou pau a pau com a oposição a saída de Renan. Mas não se deve subestimar o papel do ex-presidente.
Sarney esteve em todos os lances da crise, ainda que nas sombras. Saiu inteiro até dos mais perigosos. Não foi ao jantar que liqüidou o colega só para dar o abraço solidário.
O PMDB, o Planalto e o próprio Renan já têm um nome para "pacificar" o Senado mais adiante.

coluna de 13.out.2007

mfilho@folhasp.com.br

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