quarta-feira, 2 de abril de 2008

Bloquinho de papel

A moderação pública do apetite de Ciro Gomes intriga os adversários e começa a incomodar os colegas de PSB.
Ele oscila entre 20% e 32% na intenção de voto para a Presidência. Nos seis cenários divulgados pelo Datafolha, iria ao segundo turno.
A números tão expressivos, porém, reage com cara de paisagem. Não só mantém a campanha congelada (não viaja o país para cimentar a posição nem pega carona em temas polêmicos na mídia) como ventila, aqui e acolá, a idéia de compor uma chapa na condição de vice.
Um certo resguardo era de esperar. Subir ao palco da sucessão agora implicaria se submeter dois anos antes ao tiroteio dos inimigos. Criaria, também, embaraços a um governo que não tem interesse em expor sua estratégia para 2010.
Mas daí a deixar vazar a hipótese de ser coadjuvante de Dilma Rousseff (ou qualquer outro petista) ou mesmo do tucano Aécio Neves?
Há três explicações na praça.
Uma diz que o deputado cearense, escolado pelas duas derrotas anteriores, age com pragmatismo. Vai pular no projeto mais viável, mesmo que isso custe a cabeça da chapa.
Outra, que ele dissimula. Dá a entender que pode ser vice de oposicionista só para aumentar as chances de sair em nome de Lula.
Pela terceira explicação, o "recolhimento" é um gesto de defesa.
A largada das campanhas municipais mostra que o compromisso do presidente e do PT com o "bloquinho" (PSB, PDT e PC do B) não vai além das fronteiras do Congresso.
No Rio, por exemplo, Lula preferiu fechar com uma ala do PMDB que ele próprio chama de fisiológica e chantagista. Em vez de engordar o tempo de TV e a militância de Jandira Feghali (PC do B), vice-líder nas pesquisas, lançou um jovem petista que hoje dá traço.
Quem garante a Ciro que Lula não repetirá a dose em 2010? Já há até um candidato a Alessandro Molon nacional: o ministro-bonitão Fernando Haddad (Educação).

coluna de 02.abr.2008

mfilho@folhasp.com.br

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