sábado, 26 de abril de 2008

Parente é serpente

No documento do PT que sacudiu o xadrez pré-eleitoral em Belo Horizonte, há um detalhe que faz muita diferença. A Executiva Nacional não desautorizou a parceria com o PSDB, não criticou a administração do PSDB nem estressou diferenças programáticas com o PSDB. As censuras foram além, todas explicitamente redigidas contra o próprio governador de Minas. O partido desautorizou a aliança com Aécio, criticou a administração de Aécio e estressou diferenças programáticas com Aécio.
O recado foi claro. Tanto faz se Aécio Neves estiver no PSDB ou no PMDB. Para o PT, ele é adversário.
A decisão da Executiva, portanto, não deve ser vista apenas como uma intervenção municipal. Significa, também, a reafirmação do desejo petista de encabeçar uma chapa à Presidência e um míssil contra quem se mexia para fazer de um peemedebista (Aécio convertido) o candidato número um do lulismo.
Não há sentido em analisar a política exclusivamente pelo prisma do duelo entre petistas e tucanos. O acotovelamento entre PT e PMDB, forçados ao convívio à sombra de Lula, tem produzido mais notícias.
A guinada serrista de Orestes Quércia, por exemplo. Os seguidos fracassos de tentativas de traduzir a parceria em alianças eleitorais neste ano (só vingaram em cinco capitais até aqui). A antecipação da campanha à presidência da Câmara _os interessados caçam voto no plenário a um ano de uma eleição em que supostamente já estava tudo acordado entre os dois partidos.
A lógica nada tem de sofisticada: dois corpos não ocupam o mesmo espaço e mesmo no governo Lula há limite para a criação de cargos.
Por que o PT encheria a bola de quem tomou diretorias da Petrobras, posições na Caixa, o controle da Eletrobrás e de Furnas e não dá mostras de que perdeu o apetite?
Por que o PMDB aceitaria endossar incondicionalmente os projetos de um aliado que o tempo todo anuncia e se engaja em vôos solos?

coluna de 26.abr.2008

mfilho@folhasp.com.br

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