terça-feira, 19 de agosto de 2008

Peixe grande

O PT catarinense, que hoje controla a Secretaria da Pesca, tem pela frente um difícil ciclo eleitoral e por isso corre para garantir abrigo. E, já que a Petrobras não bastou para acomodar o condomínio de siglas que apóia Lula, convém fundar outra estatal para gerir as reservas do pré-sal.
Ainda que isso tudo seja verdade, não cabe tratar da emancipação do Ministério da Pesca e da invenção da "PetroSal" apenas como manobras do governo federal para ampliar o cabide de empregos. Há algo mais importante em jogo.
O novo status concentrará na pasta de Altemir Gregolin todo o ordenamento do setor, hoje espalhado por várias repartições. Uma única canetada poderá liberar a criação extensiva de pescado nos lagos de hidrelétricas ou licitar áreas oceânicas. É a cartilha da Casa Civil: ruim para o Ibama, bom para o país.
Quanto à Petrobras, os PACmen do Planalto sabem o quanto devem aos impostos e dividendos repassados pela empresa. Mas sabem, também, que uma "PetroSal" permitiria à União antecipar receitas e morder a bolada que atualmente fica com municípios e Estados ("royalties") e com os acionistas.
Guardadas as devidas proporções, nos dois casos Lula busca lastro orçamentário e liberdade executiva. Dinheiro e poder, na veia.
As críticas ao aparelhamento do Estado são pertinentes, sobretudo neste momento de despreocupação fiscal. Mas elas têm impacto reduzido. Urnas e pesquisas de opinião seguidamente revelam que o eleitor não só aceita como deseja os dedos do Estado na economia.
A oposição erra, portanto, quando martela somente a tecla do inchaço da máquina pública. Marcos regulatórios, observâncias ambientais, priorização de investimentos _no peixe e no óleo, o Planalto precisa ser desafiado a responder a essas urgências também. O dinheiro de Tupi pode erguer a educação pública? Pode. Mas pode acabar irrigando apenas as Unilixos da vida.

coluna de 19.ago.2008

mfilho@folhasp.com.br

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