sábado, 10 de maio de 2008

Aprecie com moderação

A cara de tacho do senador Agripino Maia ficou para a história. A lição de moral de Dilma Rousseff, sobre o direito de mentir na ditadura e o dever cívico de falar só a verdade na democracia, não.
Sabe-se agora que, quando falou ao Senado, a ministra estava ciente das conclusões da Polícia Federal e da sindicância interna. A planilha de 28 páginas com uma edição comentada de gastos de FH e Ruth Cardoso havia sido encontrada. Estava na lixeira de um computador da Casa Civil. Tinha sido produzida no Planalto, conforme antecipado pela Folha, e de lá sido vazada para a oposição, por e-mail, por um servidor do ministério ligado ao PT.
Na quarta-feira, porém, Dilma aplicava o sermão e repetia: "Não há dossiê, há banco de dados".
A quem já perdeu a paciência ou não põe fé neste escândalo de uso político de recursos do Estado pela Casa Civil, recomenda-se outro, distinto na natureza, mas similar na condução nada transparente.
Depois de quatro anos de debates, o governo lançou em 2007 a Política Nacional do Álcool, com o objetivo de reduzir o consumo de bebidas, suas conseqüências para a saúde e sua associação com a criminalidade. Mandou ao Congresso um corajoso projeto de lei para regulamentar a propaganda e incluir a cerveja na lista da fiscalização.
De cara, surgiu a suspeita de que tudo não passava de um blefe para manter nas cordas as emissoras de TV, que perderiam muita receita com a mudança. O Planalto rebateu. Afirmou que era sincero o compromisso de "proteger a população" e empenhou a palavra em cartilha enviada aos deputados.
Na quarta-feira, quando enfim a proposta entrou na pauta de votação da Câmara (e Dilma dava o baile no Senado), o QG político do governo avisou que desistia do pedido de urgência. O projeto que incomodava as TVs foi jogado na vala comum das centenas que se arrastam no Legislativo, praticamente sepultando suas chances de aprovação.

coluna de 10.mai.2008

mfilho@folhasp.com.br

Nenhum comentário: