quarta-feira, 28 de maio de 2008

Goiabada de mangaba

O ministro Mangabeira está certo quando afirma que a dicotomia motosserra x ambientalismo não traduz a realidade da Amazônia. Tome-se a largada das campanhas municipais na região. Nem se insinua o debate ambiental que, em tese, deveria pegar fogo.
No reflexo, dá vontade de dizer que os políticos caíram reféns dos grandes doadores e por isso ignoram a agenda verde. Ou que são todos farinha do mesmo saco, interessados em se locupletar à custa do agronegócio.
Uma leitura menos superficial não deveria ser descartada, porém. Se não há um governador, prefeito ou candidato de relevância que defenda a preservação incondicional da floresta, talvez seja porque esse tipo de compromisso não dê voto.
A inclusão por meio do consumo (ou a "inflação por demanda") não é um fenômeno restrito aos emergentes das metrópoles do Sudeste.
Por que a Amazônia não haveria de pressionar também por mais carros, cimento, televisores, iogurtes, material escolar e internet?
Ela pressiona, sim, e seus representantes na política também, convencidos de que a plataforma das ONGs (que jogam pelo como-está-fica e sobrevivem da crise) dificilmente atenderá a essas demandas.
Nesta sexta, os governadores se reúnem com Lula para pedir o quê? Mais obras e mais créditos. A mata? O verbo da moda é "manejar", não "conservar".
Mangabeira já havia se posicionado como ouvidor dos militares _para pendências administrativas (salários, equipamentos) e estratégicas (as Forças nem foram consultadas quando a Justiça demarcou a reserva Raposa/Serra do Sol).
Já tinha, também, se legitimado como canal dos ruralistas, insatisfeitos com o Ministério da Agricultura (frouxo, por exemplo, no caso do boicote da carne pela Europa).
Alçado ao papel de formulador para a Amazônia, ele se diz "ignorante", mas engata o primeiro discurso do governo Lula sintonizado com a sede de crescimento e integração da região. Bobo da corte?

coluna de 28.mai.2008

mfilho@folhasp.com.br

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