quarta-feira, 14 de maio de 2008

Baile fiscal

O governo Lula não sabe cortar gastos e não parece convencido a fazer o sacrifício, ainda que tenha iniciado discussões sobre um ajuste fiscal e abandonado a conversa de que isso fazia parte da "agenda derrotada" em 2006.
Na semana em que revelou a intenção de elevar o superávit primário de 3,8% para até 5%, o Planalto:
* soltou um pacote de incentivos à grande indústria que tira R$ 3,6 bilhões dos cofres públicos no ano;
* correu, certo de que o Supremo vai proibi-lo de manobrar o Orçamento por decreto, para escrever a medida provisória que reajustará o salário de 800 mil servidores (impacto de R$ 2,1 bilhões em 2008);
* amadureceu a decisão de corrigir o subsídio do Bolsa Família, corroído pela inflação da cesta básica;
* abriu mão de quase R$ 3 bilhões em impostos para segurar o preço da gasolina para o consumidor;
* ouviu quieto a base aliada no Congresso anunciar apoio à emenda 29, que aumentará o repasse de verbas federais para a Saúde, ainda órfã dos recursos da CPMF.
Estivesse determinado a apertar o cinto, o governo não incluiria essas medidas na pauta. Nem precisaria vir a público, como veio, reafirmar que PAC, folha de pagamento e programas sociais são intocáveis.
Cabe a pergunta, então: de onde sairá o dinheiro (até R$ 25 bilhões) para garantir a nova meta fiscal?
Erra quem acredita que emendas parlamentares pagarão a conta. Encerradas as eleições municipais, o Planalto será forçado a repactuar as alianças para 2010. Não poderá tirar o doce da boca do Legislativo.
Ao que tudo indica, Lula está dobrando a aposta no crescimento "espontâneo" da economia (a arrecadação já roda superávit de 4,4%) e fazendo uso oportunista de um discurso oportuno, só para evitar que os juros continuem a subir.
A idéia de um superávit maior é antes um afago em um Banco Central preocupado com a inflação do que um compromisso genuíno com o corte de despesas correntes.

coluna de 14.mai.2008

mfilho@folhasp.com.br

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