quarta-feira, 21 de maio de 2008

Boca livre

O Ministério da Fazenda mudou. Antes, preocupava-se com tudo o que dizia, ciente do estrago que uma palavra mal-empregada poderia causar. Hoje, incontinente, não só é pródigo nos comentários como bate recordes de balões de ensaio _idéias que são atiradas ao vento sem que tenham recebido a devida aprovação técnica e/ou política da Presidência.
Não surpreende, portanto, a sucessão de episódios em que o Planalto sai a público para desautorizar sua equipe econômica.
Recapitulando, apenas no último mês, foram descartadas ou devolvidas à gaveta três medidas que tinham sido apontadas como certas pela Fazenda: a restrição ao financiamento dos carros, o aumento das alíquotas do Imposto de Renda e a recriação imediata da CPMF.
No caso do imposto do cheque, Lula deseja, sim, ressuscitá-lo (iria abrir mão de receita?). Mas sob uma condição, sabida desde janeiro: que o Congresso lance a iniciativa e banque o desgaste público. Por que ele, Lula, aceitaria abraçar a "maldade" (ampliar a carga tributária) de um projeto (dar mais verbas para a Saúde) cujo dividendo político ficaria com o Legislativo?
Sobre a compulsão oral da Fazenda, ainda não há explicação definitiva. O jornalismo de hipóteses diria que ministro e assessores:
* são masoquistas e gostam de ser repreendidos pelo presidente;
* se animam com a disputa de bastidores com o Banco Central e tentam de todo modo ocupar espaço na imprensa e no debate público;
* vaidosos, não resistem ao assédio, falando o que lhes dá na telha;
* são gênios da tática e criaram um test-drive para idéias em gestação, a fim de checar sua viabilidade.
O motivo pouco importa, porém. Interessa que, tantas as declarações e tantos os recuos, o mercado ficou calejado. A especulação deixou de se guiar pela Fazenda. Voluntária ou não, essa é uma contribuição da era Guido Mantega.

coluna de 21.mai.2008

mfilho@folhasp.com.br

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