sábado, 17 de maio de 2008

Marina da glória

Na ânsia de reverenciá-la, rebaixaram Marina Silva a um bibelô. É um tanto paternalista, talvez machista e certamente incorreta a avaliação de que ela colecionou apenas derrotas e humilhações e foi uma vítima indefesa das sabotagens de colegas de governo.
Lula administra tudo com pesos e contrapesos. Põe rivais para brigar, ouve os argumentos, empurra com a barriga e arbitra quando o consenso não surge "naturalmente". Faz assim na área econômica, na diplomacia, na coordenação política. No meio ambiente também.
Marina não se surpreendeu nem se intimidou com esse estica-e-puxa. Pelo contrário. Esticou e puxou as cordas como pôde em seu favor.
Aparelhou o Inpe, órgão ligado a outro ministério (Ciência e Tecnologia), para conseguir o monitoramento em tempo real da Amazônia. Com xiitas ou não, ampliou a fiscalização do desmatamento, que chegou a cair 60% em sua gestão.
Dividiu o Ibama e criou o Instituto Chico Mendes e, com isso, não só acomodou a burocracia verde como multiplicou e reforçou a guarda de áreas de proteção ambiental.
Fomentou a indústria de liminares para frear grandes obras de infra-estrutura e, quando essa opção perdeu eficácia, enfatizou as exigências técnicas. Obrigou a Odebrecht, por exemplo, a melhorar o projeto da hidrelétrica do Madeira.
Não fosse por ela, a transposição do São Francisco teria vazão maior, como desejava o agronegócio. E, mesmo em seu maior revés, o caso dos transgênicos, deixou marca: a indústria perdeu tempo e dinheiro para legalizar algo que já era fato.
Sua renúncia é um movimento político de ataque, não de capitulação. Força Lula a embargar o sinal verde que ele havia dado às motosserras da Casa Civil.
Incensada pela comunidade internacional e agora beatificada pela opinião pública, Marina carregará o bunker para o Senado. Sabe que sempre haverá um microfone para colher seus alertas.

coluna de 17.mai.2008

mfilho@folhasp.com.br

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