domingo, 20 de maio de 2007

Emendas parlamentares

Nunca se falou tanto dos deveres e dos vícios da Câmara. Os candidatos à presidência participaram de debates, responderam a sabatinas, escreveram artigos. Da boca pra fora ou não, os três assumiram compromissos contrários aos interesses da corporação. Rejeitaram o aumento estapafúrdio de 91%. Prometeram divulgar os gastos de cada parlamentar. Declararam apoio ao voto aberto.
A base do governo no Congresso acabou redesenhada _não se sabe até que ponto à revelia do governo. O "Centrão" ressurgiu, dessa vez em órbita da aliança PT-PMDB.
O núcleo duro do PT agarrou a oportunidade de ganhar autonomia e ampliar a interlocução com Lula. A bancada do PMDB, a de impor aos caciques do partido no Senado um pacto "bom pra todos".
A eleição acelerou, de um lado, a criação de uma frente do "voto de opinião". Reabilitou, de outro, partidos e deputados mensaleiros.
Ela consolidou o desenganado PL (agora PR) como endereço favorito do troca-troca do fisiologismo. Acentuou a cisão entre a cúpula e os deputados do PTB. Expôs as feridas e angústias do PSDB e, em seguida, atirou aos tucanos um salva-vidas.
De certo modo, embaralhou também a reforma ministerial. Forçou o Planalto a repensar em que medida contemplará a chapa que emergirá vitoriosa na quinta-feira.
Com isso, pôs em banho-maria a idéia de só nomear "técnicos políticos" para o gabinete do segundo mandato. Restaurou, por exemplo, as chances de Marta Suplicy (a ex-prefeita agora joga por 2010, no vácuo de Serra, e não mais por 2008).
A eleição, por fim, embicou a corrida à sucessão de Lula. Satélites no "Centrão", PSB e PC do B já matracam sobre uma "terceira via" (Ciro Gomes) para competir com o petista e com o tucano que sobreviverem à carnificina de seus partidos.
Não é nada, não é nada, não é... nada do que dizem cínicos, nostálgicos, os que odeiam a política.

coluna de 30.jan.2007

mfilho@folhasp.com.br

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