domingo, 20 de maio de 2007

Vitamina C

Graças à inflação baixa e controlada, o brasileiro que havia sido apresentado pelo Real aos iogurtes hoje assina sem embaraço prestações nas Casas Bahia e leva celular, computador e videogame.
O PIBinho de 2006 (2,9%) só não foi mais "inho" porque as famílias saíram às compras (3,8%). Os contratos de crédito consignado batem recordes nos bancos. Os planos de saúde que mais crescem? O setor do turismo mais aquecido? Os produtos de higiene/beleza que mais vendem? São aqueles que miram na baixa classe média.
Mas, se o mercado reagiu com rapidez, os políticos seguem alheios ao alargamento do "miolo" da pirâmide social (talvez já seja incorreto representá-la com uma pirâmide).
A oposição nem se aproxima. Por distração ou porque não sabe o que dizer a esse eleitor da classe C (e ao das outras letras, também).
Constrangido pelos escândalos de corrupção, o PT igualmente hesita. Além disso, o partido sempre priorizou os extremos da pirâmide _as "massas" e os "formadores de opinião" (quando os reconhecia). Foi o erro que custou a reeleição de Marta Suplicy à prefeitura.
O Planalto por ora nada oferece de iniciativas públicas para esses "emergentes". A questão da segurança não comove Lula. A saúde foi só moeda de troca. Na educação, o ProUni não bastou nem para desarrumar o penteado do ministro.
Quem já estava no "andar de baixo" da classe média reage com revolta. E quem ascendeu logo encampa o discurso de "motorista de táxi" _é duro não se desiludir com a conta do celular, o asfalto que arrebenta o novo carro usado, a burocracia do serviço do plano de saúde, a qualidade da escola particular mixuruca em que matriculou o filho para protegê-lo dos traficantes.
Lula, tão intuitivo, ainda não percebeu que a inclusão social por meio do consumo, principal fortaleza do primeiro mandato, pode ser um obstáculo para o terceiro.

coluna de 05.mar.2007

mfilho@folhasp.com.br

Nenhum comentário: