sexta-feira, 25 de maio de 2007

O soneto é pior do que a emenda

Na segunda-feira, o ministro da Justiça chamou os repórteres. Disse que não havia dossiês ocultos contra congressistas, mas confirmou a existência de uma lista de centenas de pessoas que receberam mimos e brindes da empreiteira arrombada pela Operação Navalha, "como ocorre em todas as empresas". Engatou comentários sobre a necessidade de uma reforma política. Fez ressalvas sobre as emendas parlamentares. Conhecido pelo esmero na escolha das palavras, associou esse instrumento, de que os deputados e senadores se servem para atender seus redutos eleitorais, a "costumes oligárquicos" e "relação fisiológica".
Não é o caso de discutir aqui a capacidade de operação de Tarso Genro _embora a relação crescente de sucessos daquele que costumava ser chamado com desdém de "Suplicy que Fala Javanês" peça uma análise dessa natureza.
Cabe, por ora, observar que a entrevista do ministro foi um ponto de inflexão. Ele falou, falou e falou... só do Legislativo. Desde então, por ingenuidade ou hábito, só se discute (e se esculacha) a relação entre Congresso e empresários.
Porém a primeira cabeça decepada pela Operação Navalha dirigia o ministério mais vital do PAC.
O lobby da Gautama bateu ao menos duas vezes à porta do próprio presidente. Lula assinou uma medida provisória para garantir uma das mais controvertidas obras.
Quase 70% das verbas públicas repassadas à construtora desde 1998 partiram diretamente do Executivo, sem mediação do Congresso.
Lobistas, padrinhos políticos, partidos implicados, tudo varia nas fraudes apontadas pela PF. A única coincidência é que elas foram alimentadas pelo dinheiro da União.
Mas quais foram as propostas lançadas até aqui? Extinguir, transformar em impositivas ou coletivizar as emendas do Congresso.
A cobertura sobre o Orçamento precisa ouvir o Outro Lado.

coluna de 25.mai.2007

mfilho@folhasp.com.br

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